domingo, 27 de setembro de 2009

Eleições Legislativas 2009 - As "vitórias" e o futuro

Registo:

Percentagem de votos:

PS: 36,6%;
PSD: 29,1%;
CDS/PP: 10,5%
BE: 9,9%;
CDU: 7,9%

Número de deputados na próxima legislatura (antes de apurados os votos pelos círculos da emigração):

PS: 96;
PSD: 78;
CDS/PP: 21;
BE: 16;
PCP: 15.

Comentário em 6 pontos:

1. Embora perdendo em percentagem de votos e no número deputados em relação à última legislatura, o PS venceu as eleições. Nem a maior crise económica mundial, nem a campanha de "casos", nem o encarniçamento à direita (PSD) e à esquerda (BE), nem o ataque das corporações (com os professores à cabeça e o contributo dos funcionários públicos e magistrados) foram suficientes para retirar ao PS a maioria. Conseguiram sim transformar a maioria absoluta em maioria relativa. O PS continua, pois, a ser o partido mais votado (mais 7,5% dos votos do que o segundo) e renovou, por isso, a sua legitimidade para formar governo (só - o mais provável - ou em coligação - pouco provável).

2. O PSD, não obstante as expectativas criadas com a sua vitória nas eleições europeias, não só não conseguiu capitalizar tais expectativas, vencendo as legislativas, como não viu confirmado o "empate técnico" que as sondagens lhe atribuíram durante longo tempo. A meu ver, para além do mérito da campanha do PS, o resultado fica a dever-se, sobretudo, à fraqueza da actual liderança e à estratégia errada seguida na campanha eleitoral, uma "campanha reles" como já a classifiquei anteriormente. O PSD, com o exemplo da campanha eleitoral para as anteriores eleições legislativas, já devia ter chegado à conclusão de que as campanhas negativas não são especialmente apreciadas pelo eleitorado. Mas os "filósofos" e "historiadores" de serviço, não aprendem, pelos vistos, com as lições da história. A "vitória" da "Verdade" (verdadinha) vai ter que esperar.

3. O CDS/PP foi indubitavelmente, por mérito próprio da sua campanha (bem mais moderada do que a do PSD - que se encarregou, sponte sua, da parte "suja" da campanha - e mais centrada nas suas propostas), um dos vencedores destas eleições e Paulo Portas, uma vez mais tem razões de queixa das sondagens, incluindo as sondagens à boca das urnas, que admitiam que, em número de deputados, ficaria atrás do BE, para, no final, se concluir que fica com mais 5 deputados do que este partido.

4. O BE não tem especiais razões para se congratular com estes resultados, face às suas expectativas. É verdade que contribuiu para retirar ao PS a maioria absoluta, mas a sua contribuição foi menor que a do CDS, por exemplo. Todavia, não conseguiu alcandorar-se à posição de terceira força política com representação parlamentar, (fica atrás do CDS - o que nunca lhes passou pela cabeça) nem conseguiu, como era seu claro objectivo, atingir uma votação com dois dígitos, em termos de percentagem. A agressividade do BE não compensou, a meu ver. Magra "vitória", para tanta ambição.

5. O PCP, através da votação averbada à CDU, viu-se remetido para a 5ª posição no hemiciclo de S. Bento, com 15 deputados, número que, neste momento, dou sob reserva, por ignorar se o PEV, integrante da coligação, conseguiu eleger algum dos seus candidatos. Teve a "vitória" que nunca, mas nunca, falha. No discurso do PCP.

6. E o futuro ? O futuro a Zeus pertence.
Em todo o caso, não é difícil antever que não será fácil ao PS formar um Governo de coligação, nem à esquerda, nem à direita.
À direita não é possível com o PSD, tendo em conta, em primeiro lugar, a animosidade entre as duas lideranças e, por outro, os tempos que vivemos não são fáceis para quem governa e, por isso, não me parece que o PSD, não liderando o Governo, queira sofrer o desgaste duma governação exigente. A coligação com o CDS/PP, embora, a meu ver, pudesse ser útil para este partido (que veria, nessa hipótese, a possibilidade de valorizar a sua posição de partido de Governo, diminuindo a importância do PSD) parece-me pouco provável, porque boa parte do eleitorado PS não a veria de bom grado, pese embora a moderação de que Paulo Portas tem dado sinais, nos últimos tempos.
À esquerda, o PS para formar Governo com apoio em maioria parlamentar, teria de contar com o acordo de dois partidos (BE e PCP), o que, não sendo impossível, não parece ser de fácil, nem de provável, concretização. A tal obstará, em primeiro lugar, a diferença radical existente entre o programa do PS e os programas dos dois outros partidos, diferença que não se vê como poderia ser ultrapassada, com cedências de parte a parte. A que acresce a circunstância de o BE, mais do que o PCP, ter elevado o PS à categoria de inimigo principal, o que, como é óbvio, não favorece o entendimento entre eles.
O PS, tudo o indica, ver-se-á, pois, forçado a formar um Governo minoritário que as oposições poderão derrubar se e quando assim o entenderem. No entanto, se tal Governo, embora sem cedências ao populismo, se mostrar capaz de levar a efeito uma política que os portugueses reconheçam como a mais adequada para ir resolvendo os problemas que o país enfrenta, quer os derivados da crise económica internacional, quer outros que já vêm de décadas anteriores (para não dizer de séculos), tenho por certo que os partidos que enveredarem por tal caminho, irão pagar por isso, pois que o que o país menos precisa, neste momento, é de instabilidade.
Estou a ser optimista em demasia: eu sei. Por isso, repito: o futuro a Zeus pertence.

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