“Advoguei sempre a politica do simples bom senso contra a dos grandiosos planos, tão grandiosos e tão vastos que toda a energia se gastava em admirá-los, faltando-lhes a força para a sua execução”, lia Junqueiro. “Eu sei o que é que vocês estão a pensar que este é um discurso de Manuela Ferreira Leite, mas não é, este é um discurso feito em 9 de Junho de 1928 e já nem me lembro quem era o primeiro-ministro dessa altura” (extracto do discurso proferido por José Junqueiro ontem, em Viseu, no âmbito da campanha eleitoral).
É verdade, digo eu, que a Drª Leite tem feito toda uma campanha pela negativa. Começou, como se sabe, com o "pára tudo" e o "rasga tudo"; enveredou, de seguida, pelo tema da "asfixia democrática" (ela e os seus "filósofos" lá sabem o que lhes passa pela cabeça); acusou o Governo e o primeiro-ministro e secretário-geral do PS de todos os males da pátria, negando a evidência da maior crise económica mundial (o "abalozito de terra", na "Verdade" dela) e, last but non least, aproveitou todos os casos que foram surgindo, verdadeiros ou fabricados ("escutas" de Belém; suspensão da classificação do juiz Rui Teixeira, por iniciativa do CSM, and so on) para desferir ataques a torto e a direito contra o PS e José Sócrates.
Convenhamos que foi mais a torto que a direito, porque, por azar dos Távoras, os tiros acabaram por se virar contra ela e o seu partido:
Sobre a "estória" das "suspeitas" já são conhecidos os resultados e a comunicação social já deu conta, em vários tons, que o PSD ficou "embatucado" com o desenvolvimento do caso e até o filósofo da Marmeleira já se sentiu traído pelo mentor do PSD, o inquilino de Belém;
O caso da suspensão da classificação do juiz Rui Teixeira, agitado pelo vice-presidente do PSD, Mota Pinto, como mais uma prova de manipulação pelos socialistas, revelou-se mais um "
flop", pois está hoje provado que, ao contrário do que foi propalado, não houve "partidarização nenhuma” (
di-lo o CSM que lembra também que o congelamento da nota resultou do facto de “ter sido proferida sentença judicial, que em primeira instância condenou o Estado ao pagamento de uma elevada indemnização na sequência de ‘erro grosseiro’ atribuído àquele magistrado, no exercício das suas funções”). E, finalmente, o extracto da acta contendo a deliberação tomada a 14 de Julho (e só agora aproveitada por Mota Pinto, suponho que também em desespero de causa) prova que a mesma foi tomada na sequência de “uma proposta apresentada pelo vogal Laborinho Lúcio" (
ex-ministro de Governos do PSD). Sabido tudo isto, é caso para perguntar: onde é que o ex-conselheiro do Tribunal Constitucional, Mota Pinto, tinha a cabeça, quando se lembrou de lançar mais esta atoarda?
É verdade ainda, insisto eu, que a obsessão pelo endividamento que persegue a Drª Leite também era perfilhada pelo antigo presidente do Conselho, António de Oliveira Salazar.
Não obstante todas estas verdades (ou só por mim tidas como tal), a Drª Leite tem razão para se sentir ofendida e exigir reparação. E, por duas razões: à uma, porque, como é sabido, numa senhora não se toca nem como uma flor. E, em segundo lugar, a comparação não tem razão de ser: afinal, ela só se pronunciou pela suspensão da democracia por seis meses e não por quatro décadas e isso faz toda a diferença. É óbvio!
De resto, acrescento, a comparação feita por José Junqueiro, além de ofensiva para a Drª Leite, revela-se um acto perfeitamente inútil, pois não são precisas comparações para se saber o que ela vale. Basta ouvir o que ela diz e faz. Eu, limitando-me a seguir este método, não tenho dúvidas sobre o seu valor, como pessoa (e aqui remeto o leitor para o "post" "Mísera e mesquinha") e como política (os "post" sobre o assunto são tantos que não maço o leitor com a sua indicação e nem me atrevo a sugerir a sua leitura).
E, por isso, insisto: Nem com uma flor !
Post scriptum: Sendo certo que José Junqueiro nem chega a citar o ex-presidente do Conselho de ministros, tanta susceptibilidade da drª Leite, que já foi bem mais longe, em matéria de suspeitas, insinuações e acusações (a "asfixia democrática" de que ela fala a toda a hora e sobre a qual vai continuar a falar, "até à exaustão", é só, a meu ver, a mais grave) leva-me a crer que o desespero de que fala não é o dele (PS) mas o dela. E compreende-se. Levando, por uma vez, as suas palavras a sério, a senhora está mesmo "exausta". Ou antes, "acabada", para utilizar uma expressão, não dela, mas minha.
(Na imagem: inflorescência de Campsis radicans (L.) Seem. - Clicando na imagem, amplia)
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