bonita imagem! - um manto de neve cobrindo toda a paisagem! E tal imagem e expressão "o frio está lá fora" (e permito-me acrescentar para nosso bem, pois muitos não terão o mesmo privilégio) lembrou-me o famoso poema de Augusto Gil, que não resisi a não transcrever no comentário, ousadia, que lhe peço desde já que releve "Batem leve, levemente, como quem chama por mim. Será chuva? Será gente? Gente não é, certamente e a chuva não bate assim.
É talvez a ventania: mas há pouco, há poucochinho, nem uma agulha bulia na quieta melancolia dos pinheiros do caminho…
Quem bate, assim, levemente, com tão estranha leveza, que mal se ouve, mal se sente? Não é chuva, nem é gente, nem é vento com certeza.
Fui ver. A neve caía do azul cinzento do céu, branca e leve, branca e fria… . Há quanto tempo a não via! E que saudades, Deus meu!
Olho-a através da vidraça. Pôs tudo da cor do linho. Passa gente e, quando passa, os passos imprime e traça na brancura do caminho…
Fico olhando esses sinais da pobre gente que avança, e noto, por entre os mais, os traços miniaturais duns pezitos de criança…
E descalcinhos, doridos… a neve deixa inda vê-los, primeiro, bem definidos, depois, em sulcos compridos, porque não podia erguê-los!…
Que quem já é pecador sofra tormentos, enfim! Mas as crianças, Senhor, porque lhes dais tanta dor?!… Porque padecem assim?!…
E uma infinita tristeza, uma funda turbação entra em mim, fica em mim presa. Cai neve na Natureza e cai no meu coração".
É uma poesia que também aprecio, não só pela poesia em si, mas também porque me faz lembrar a Guarda, cidade onde estudei alguns anos e onde, na altura da feitura da poesia, vivia o autor que nela exercia o cargo de governador civil, se não estou em erro.
Se o Augusto Gil foi Governador Civil nesse tempo como refere o autor do blogue, pela beleza e pela profundidade destes versos está perdoado. Obrigado ao anónimo(a) que se atreveu a transcrever neste blogue os versos de tamanha sensibilidade e que de outro modo não teria a oportunidade de os reler na voragem da corrida contra o tempo. Estes versos para mim, são a pausa e a transição e são ainda mais belos que a flor vermelha do cacto.
3 comentários:
bonita imagem! - um manto de neve cobrindo toda a paisagem! E tal imagem e expressão "o frio está lá fora" (e permito-me acrescentar para nosso bem, pois muitos não terão o mesmo privilégio) lembrou-me o famoso poema de Augusto Gil, que não resisi a não transcrever no comentário, ousadia, que lhe peço desde já que releve
"Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.
É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho…
Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.
Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria…
. Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!
Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho…
Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança…
E descalcinhos, doridos…
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!…
Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!…
Porque padecem assim?!…
E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
e cai no meu coração".
É uma poesia que também aprecio, não só pela poesia em si, mas também porque me faz lembrar a Guarda, cidade onde estudei alguns anos e onde, na altura da feitura da poesia, vivia o autor que nela exercia o cargo de governador civil, se não estou em erro.
Se o Augusto Gil foi Governador Civil nesse tempo como refere o autor do blogue, pela beleza e pela profundidade destes versos está perdoado.
Obrigado ao anónimo(a) que se atreveu a transcrever neste blogue os versos de tamanha sensibilidade e que de outro modo não teria a oportunidade de os reler na voragem da corrida contra o tempo.
Estes versos para mim, são a pausa e a transição e são ainda mais belos que a flor vermelha do cacto.
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