sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Coerência em Belém é coisa que não há*


"Passou um ano e meio desde que, no discurso de tomada de posse, o Presidente da República (PR) fez um retrato negro do país e pediu aos portugueses que fizessem ouvir a sua voz.
Falou dos demasiados sacrifícios a que o Governo de então sujeitava os portugueses, traçou-lhes um limite, associou-se aos que ansiavam pelo recurso à intervenção externa. Iniciou-se nesse dia 9 de março, também pela mão do PR, uma crise política que levaria à queda do Governo, ao fechar dos mercados internacionais, à necessidade de recorrer ao programa de assistência financeira.
No último ano, o PR assistiu à rutura de todos os compromissos. Assistiu à rutura com a primeira versão do memorando, substituindo a estratégia inicial por uma revolução além do memorando. Fê-lo, apesar das consequências económicas, sociais e políticas dessa escolha serem previsíveis e evitáveis.
Assistiu a uma afronta à concertação social e à desvalorização dos acordos conseguidos, que culminou na apresentação da TSU sem ouvir os parceiros. Assistiu, ao longo do último ano, a um progressivo esboroar do espaço de compromisso político entre os partidos do Governo e PS, fragilizando assim as condições de governabilidade. Assiste agora, ao vivo e a cores, à guerra civil na coligação governamental.
Nos últimos dias ouvimos muitos protagonistas políticos intimar o PR a nomear um governo de iniciativa presidencial. Mas, antes disto, cabe ao presidente presidir. Quebrar o seu silêncio e presidir. Exercer o seu papel junto do Governo, ajudando a esclarecer a verdadeira situação económica e orçamental do país. Contribuir para que o memorando seja aplicado procurando um equilíbrio entre consolidação orçamental e estabilidade económica.
Lembrar ao governo que a paz social não se suplica, mas constrói-se e que para tal a concertação social é essencial. E garantir que o orçamento que promulga não é um instrumento de uma contra-revolução social. Em silêncio e excusando-se a presidir, o PR não só não contribui para o fim desta crise política, como a reforça."
(Mariana Vieira da Silva - Socióloga ; Falta Presidir ; daqui)
(* Há fortes indícios de que nunca houve.)

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