«Vamos na pista para Tamanrasset, mas ninguém sabe se até lá encontraremos água no poço assinalado nas cartas militares e se encontraremos gasóleo na cidade tuaregue para podermos prosseguir viagem. Não temos GPS nem telemóveis, apenas a navegação incerta da bússola e o mapa das estrelas para nos guiar num imenso vazio sem horizontes conhecidos. Aqueles que tinham por obrigação liderar a caravana Portugal nesta travessia do deserto - Presidente da República e primeiro-ministro - não fazem a menor ideia se o que julgam enxergar à distância é um oásis ou uma fatal miragem.
Cavaco Silva, concretamente, já não tem remissão possível: se fica longas temporadas invisível ou em silêncio (o que o país agradece), revela a sua absoluta irrelevância, conquistada por exclusivo mérito próprio; se resolve mostrar-se e abrir a boca, cai-lhe irremediavelmente em cima a irritação e o desprezo de um povo que já não o suporta e que, se pudesse, o despachava de vez já este fim de semana.
Pedro Passos Coelho, o jotinha a quem nenhuma pitonisa se atreveria a prever um destino de PM, "o português mais bem preparado para ser primeiro-ministro de Portugal", como nos garante o líder parlamentar do PSD, é um náufrago da política: figurante na Europa. encostado ao abrigo da nave-capitã, e uma espécie de amanuense da República, para efeitos internos. Dali jamais saiu e jamais sairá uma ideia para Portugal, um rasgo de ousadia ou de pensamento próprio fora do modelo em que foi formatado.(...)»
(Extracto da crónica de Miguel Sousa Tavares com o título em epígrafe. Edição impressa do "Expresso" de hoje. Na imagem, a ilustração da crónica. Autor: Hugo Pinto)
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