"Um secretário de Estado apresenta um programa sobre emigração, assunto delicado num país a encolher. Perguntam-lhe quantas pessoas vai beneficiar e quantas empresas. Pedem-lhe números, metas, dinheiro disponível e duração da iniciativa. São dúvidas que fazem sentido, simples, básicas, os emigrantes e as suas famílias querem perceber. Perguntam-lhe se ele sabe quantas pessoas deixaram o país nos últimos anos, deve ter informação atualizada, tem acesso a ela, pensou certamente no assunto - presume-se. Pedro Lomba - jurista, ex-comentador, ex-guru da comunicação política do governo - não sabe ou não quer dizer, assegura apenas que são menos de 400 mil os portugueses que deixaram o país durante a recessão. Menos? Quantos menos? Isso não interessa, responde, como não interessam os detalhes do programa. O relevante, diz, enxofrado, irrequieto na cadeira da TVI, é que antes não havia nada para ajudar os emigrantes a voltar. E que tal se houvesse um país a crescer mais, uma economia mais capaz de criar emprego duradouro e qualificado, um país com impostos um pouco mais baixos, um país em que nenhum secretário de Estado ou ministro jamais tivesse a ousadia de anunciar um programa vazio e raquítico - a parra que tapa as vergonhas? A emigração salvou o país de um descalabro maior em 2012-2013. Tivessem ficado por cá aqueles portugueses todos e a crise social seria ainda mais insuportável. Toda a gente sabe isso. Pedro Lomba não o ignora. Por que motivo, então, remexer na ferida e copiar uma ideia que os irlandeses tiveram (a Irlanda cresceu 4,8% em 2014), mas que sem o incentivo natural da economia não passa de um logro político, uma miragem, um desrespeito por todos os que, agora, olham e só veem uma mão-cheia de nada. Veremos o que acontece até ao fim da legislatura: depois das políticas de incentivo à natalidade de Passos Coelho (onde? quando?), a seguir à maravilhosa reforma do Estado de Paulo Portas (onde, quando?), temos o programa Lomba, uma chamada de regresso para lado nenhum."
(André Macedo; "O emigrante". Aqui)
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