domingo, 8 de fevereiro de 2009

Saudosismos

O defeito deve ser meu, mas não compreendo toda a polémica à volta da transformação em hotel do edifício onde tem funcionado o Tribunal da Boa-Hora. O argumento de que tal transformação "constituirá mais um atentado à memória colectiva e demonstra uma falta de sensibilidade para os assuntos da justiça" é, para além de saudosista, simplesmente destituído de qualquer razoabilidade. Com este tipo de argumentação teríamos que passar a vida a questionar a utilização de centenas de edifícios que por esse país fora já albergaram tribunais e que entretanto foram afectados a outros fins. Ou será que há tribunais e tribunais?
O edifício do Tribunal da Boa-Hora antes de ser um tribunal foi um convento (mais precisamente o Convento da Boa-Hora, de dominicanos irlandeses) e não se perdeu a memória do facto, em virtude de ter ser convertido em tribunal.
Insiste-se: o argumento além de tudo o mais é ridículo, pois a memória histórica não tem a ver com a utilização que venha a ser dada a este ou a qualquer outro edifício. Pelo contrário, a utilização do edifício como hotel pode até contribuir não só para a sua conservação, como até para preservar a memória do lugar (que passa pela conservação). É, afinal, o que tem acontecido com as pousadas construídas em dezenas de edifícios e monumentos (mais carregados de história do que o Tribunal da Boa-Hora). Sem edifício (de preferência bem conservado, como se exige a um hotel) é que não há memória que resista. Acho eu.

1 comentário:

Anónimo disse...

Eu também acho evidente e óbvio. Só o atavismo de quem não quer que se faça nada pode defender o contrário. Acresce que, e com conhecimento bastante profundo dos tribunais instalados na Boa Hora, o edifício é completamente desajeitado para a função e até, creio eu, para mais remendos no sentido de o reabilitar para tal.
Por isso,haja novas ideias...
Zé Mário