Sobre as responsabilidades de Dias Loureiro no caso do BPN e da Sociedade Lusa de Negócios (SLN) já aqui me pronunciei e também aqui. Entendi então e continuo a entender que, por ora, não há indícios de haver da sua parte responsabilidade de natureza criminal. Já o mesmo não direi relativamente a responsabilidades de natureza cível, pois, segundo se pode concluir de declarações públicas por ele prestadas, pode, pelo menos, ser-lhe imputada culpa "in vigilando". Recordo que, ao defender a sua testada, Dias Loureiro, alegou ter agido com base na confiança que depositava em José Oliveira e Costa e na supervisão dos auditores. Ora tal defesa peca, manifestamente, por ingenuidade, pois é óbvio que um administrador de uma empresa não está lá para confiar, mas para actuar e com conhecimento de causa. Em suma, no plano cível, a sua defesa é francamente débil.
A publicação de uma notícia no "Expresso" de ontem, e aqui retomada, dando conta que afirmações feitas por Dias Loureiro na Comissão de Inquérito a decorrer na Assembleia da República sobre o caso, não correspondem à realidade dos factos documentalmente comprovada, deixa muitas dúvidas sobre a sinceridade das declarações de Dias Loureiro, mas, ainda assim, dou-lhe o benefício da dúvida, mesmo correndo o risco de ser considerado tão ingénuo quanto ele.
Isto, no entanto, não me impede de concordar com os que entendem que Dias Loureiro deve ser ouvido novamente na comissão de inquérito e com os que defendem que Dias Loureiro deve demitir-se do Conselho de Estado.
A nova audição é indispensável para esclarecer a contradição entre o depoimento prestado na comissão e a documentação tornada pública. A explicação do esquecimento, num negócio envolvendo muitos milhões de euros e que não é propriamente como uma ida ao supermercado, obviamente não colhe.
Por sua vez, a demissão de Dias Loureiro do Conselho de Estado impõe-se à luz do que ele próprio afirmou, ao insinuar que essa seria a sua decisão, se sentisse que a situação se tinha tornado incómoda para o Presidente da República.
Ora, sobre a incomodidade do PR, não parecem não restar quaisquer dúvidas. Quando o Presidente da República, questionado sobre se mantinha a confiança no seu conselheiro de Estado depois do jornal “Expresso” ter noticiado que “Dias Loureiro mentiu à comissão de inquérito", se limita a dizer "Já falei uma vez e é suficiente", o incómodo é mais que evidente. Só o não vê quem não quer. Ou a quem tal não convém. Será o caso.
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