No "Sobe e Desce" do "Público" (edição impressa) o Presidente da República (PR) tem sempre, salvo muito raras excepções, direito a seta apontada para cima. Na edição de hoje, para não fugir à regra, o PR ganhou direito a mais uma. Graças a quê ? Transcrevo: "O Presidente congratulou-se com o adiamento do TGV. E deixou no ar, em jeito de alternativa, a urgência da aposta em estradas secundárias do interior que, não sendo tão vistosas, podem, na sua opinião, ser mais importantes para o desenvolvimento e a coesão territorial. Ainda bem que o Presidente aprendeu com os excessos do seu Governo. Como se viu, não é com obras sumptuosas que o país avança."
Quer a opinião do Presidente, quer a peça são uma delícia e vê-se bem que, nem o PR, nem o autor da peça fazem ideia da realidade e das necessidades do interior. Por aí andei agora, durante umas três semanas, durante as quais não vi, nem senti da parte das gentes do interior, qualquer necessidade de novas ligações ou de melhoria de estradas secundárias, assunto de que as autarquias locais (municípios e freguesias) têm tratado com eficiência, algumas vezes (ouso dizê-lo) pecando até por excesso. E, já agora, falando daquilo que melhor conheço, informo que para "o desenvolvimento e coesão" da Beira Interior foi, e é, bem mais importante a construção da A-23 [no entender de Cavaco Silva (enquanto Presidente, que não enquanto primeiro-ministro) obra sumptuosa, por certo] que milhentas estradas secundárias que não fazem falta nenhuma.
A sugestão do PR é, pois, a meu ver, do domínio do anedótico e como tal deve ser tratada. Por isso, não vou ao ponto de dizer que não tenha alguma utilidade, porque tem: as formigas, nos caminhos rurais e nas estradas de terra batida, vêem-se em dificuldades para arrastar as cargas que transportam em direcção aos formigueiros, devido às irregularidades do terreno. A melhoria e a asfaltagem desses caminhos e estradas seria, na perspectiva das formigas, um grande benefício. Estas, estou certo que se revêem na posição do PR e que, reconhecidas, agradecem.
Adenda:
Em tom mais sério, devo dizer que, no interior do país, há, com certeza, carências. Estou a lembrar-me, por exemplo, que não existe suficiente cobertura das redes móveis e, por isso, não há possibilidade, em muitas aldeias do interior, nem de uso de telemóveis, nem acesso à internet, a não ser através dos telefones fixos, que, hoje, muito boa gente já não tem. Isto, porém, cheira a "Plano Tecnológico" e disso não convém falar.
2 comentários:
Quanta ironia.
:))
O país do faz de conta...
Enviar um comentário