sábado, 31 de janeiro de 2015

As promessas incumpridas e a excepção


 É mais que sabido (até porque há documentação - o vídeo supra é apenas um dentre vários exemplos - que amplamente o comprova) que Passos Coelho é um incumpridor de promessas nato e um aldrabão de se lhe tirar o chapéu.
A desconformidade entre o prometido e o cumprido atinge tais dimensões que não será muito ousado supor que estamos perante um caso patológico característico de uma cabeça onde verdade e mentira são conceitos que se confundem.
Todavia não é de excluir que, mesmo em casos extremos como este, possa haver uma ou outra excepção à regra.  E, de facto, no caso de Passos Coelho até há um caso de cumprimento que confirma a regra da excepção.
Toda a gente se recorda certamente da afirmação de Passos Coelho, segundo o qual: «Só saímos desta situação empobrecendo em termos relativos e até absolutos» .
Uma tal afirmação não consente dúvidas sobre a política que Passos Coelho iria seguir ao longo de toda esta legislatura (que, graças a Cavaco, nunca mais acaba!) 
E os factos também não permitem dúvidas de que, neste particular, Coelho prometeu e Passos cumpriu. Portugal e os portugueses empobreceram mesmo. De facto,  

«Portugal voltou aos níveis de pobreza de há dez anos», titula o "Público" e os números e também, neste caso, os gráficos, não enganam.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Um tonto e um sonso

"Não estarei do lado de nenhuma conferência que seja para perdoar a dívida ou reestruturar a dívida à custa dos povos europeus. Isso é claro, muito claro" (Passos Coelho, o tonto, que nem se apercebe que a dita conferência também poderia ser vantajosa para Portugal)
Cavaco, o sonso, que, entalado pela carta dirigida por Ricardo Salgado à Comissão de Inquérito sobre o BES, se recusa a dar mais explicações sobre o caso BES, alegando que "Tudo o que se vai dizer ao Presidente da República é reservado". Sonso é, porque faz de parvo que, todavia, não é. Cavaco sabe muito bem que os esclarecimentos pretendidos não têm a ver com o que Salgado lhe foi dizer, mas com as declarações que ele próprio fez em abono da situação financeira do BES, quando já conhecia a crise que o BES atravessava.
Moral da estória: não há dúvida de que os portugueses escolheram para dirigir os destinos do país uma bela parelha: um tonto e um sonso. Nem mais, nem menos. 

O verso e o reverso do conto do vigário

Aqui.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Atenção ao "conto do vigário"!

«(...)

Fala-se do irrealismo do programa do Syriza como se o programa de ajustamento grego (e já agora o português), com as suas mirabolantes metas, tivesse algum dia sido realista. Acusa-se o Governo grego de egoísmo e de só pensar nos seus interesses, como se os alemães e restantes europeus legitimamente não defendessem os seus interesses. Passos Coelho compara as ideias de Tsipras às de um "conto de crianças", esquecendo o conto do vigário que ele próprio contou aos portugueses no seu programa eleitoral.

A escolha dos gregos nas eleições de domingo foi feita à beira do precipício. Em vez de se agarrarem aos pedregulhos da Acrópole, decidiram atravessar o precipício sobre uma corda sem rede por baixo levados por um misto de desespero e orgulho. Nunca conseguirão tudo o que querem, mas já começaram a travessia. E fazem-na de cabeça erguida e isso merece todo o respeito

(Manuel Esteves; "A Europa não pode dar lições de realismo". Na íntegra: aqui)

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Definitivamente: os portugueses não são gregos!


Dizem as "crónicas" que para Passos Coelho, o programa do Syriza que os gregos acabam de sufragar em eleições legislativas é "um conto de crianças", só porque, no seu entender, "é difícil de ser conciliado com aquilo que são as regras europeias".
A afirmação de Passos Coelho é tão estúpida e revela uma tal falta de sentido de estado que só não é motivo de espanto, porque não destoa do nível de linguagem rasca que usa com frequência. E também é demonstrativa de que Passos Coelho não prima pela subtileza, dado que nem sequer se apercebe que a sua afirmação constitui objectivamente uma grave ofensa ao povo grego tratado por ele como um colectivo de crianças que se deixou influenciar pelo primeiro que lhe apareceu a contar a história da carochinha. 
A ofensa em causa, para além de motivo de vergonha para o seu autor,  acaba também por envolver o país no despautério, atendendo às funções que ele (infelizmente) desempenha, o que torna o caso ainda mais lamentável.
Diga-se entretanto, olhando para o caso numa outra perspectiva, que, mesmo que a versão de Passos Coelho tivesse alguma aproximação com a realidade dos factos (que não tem), sempre se poderia dizer (e eu digo) em abono dos gregos que, enquanto estes poderiam, segundo tal versão, ter-se deixado embalar com contos para crianças, os portugueses deixam-se enganar com muito maior facilidade, E sobre este ponto não restam dúvidas, pois é um facto que já figura nos anais da história: bastou que lhes tivesse aparecido um Passos Coelho contador de aldrabices, para os levar à certa, com as consequências que estão à vista. 
Mas mais: os gregos ao votarem Syriza deram provas que não vão mais em balelas austeritárias. Em contraponto, em Portugal, continua em exercício, como primeiro-ministro, um fanático da austeridade, seguidor, custe o que custar, da senhora Merkel.
Definitivamente: os portugueses não são gregos. Se fossem, já teriam corrido o fanático para fora de cena, com um pontapé no traseiro.

domingo, 25 de janeiro de 2015

Ainda ministra!


«Faz, a 4 de fevereiro, dois anos que João Miguel Barros se demitiu de Chefe de Gabinete de Paula Teixeira da Cruz. E desde então, está dito e confirmado pelo próprio que, antes de se demitir, avisou da inabilidade do Citius para responder à reforma judiciária. Terá sido, aliás, por isso, que resolveu cessar funções. 
(...)
Pois a Ministra da Justiça, confrontada com o fracasso do Citius e a paragem/desordem que provocou, 44 dias a fio, justifica-se, dizendo "Não sou informática". Ora isso nós já sabíamos. O que agora confirmamos é que Paula Teixeira da Cruz, depois da indecorosa participação crime contra funcionários do Citius – aliás, arquivada em tempo, também ele, indecoroso – e da demissão dos dirigentes do IGFEJ, se não serve para informática, muito menos para Ministra.»
(Magalhães e Silva; "Ainda a ministra". Na íntegra: aqui)

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Quatro anos a penar escusadamente...

Há muito aguardada, a decisão de compra de dívida pública pelo BCE foi finalmente tomada. E saudada por várias entidades, incluindo o secretário-geral do PS
A decisão, sabe-se, não foi tomada antes, porque contou sempre com a oposição da senhora Merkel e dos seus lacaios, entre os quais figura Passos Coelho. Este, à semelhança da sua tutora, sempre se manifestou contra a compra de dívida pública pelo BCE, por muito que ele agora, venha a dizer o contrário, num exercício de ginástica de que é exímio executante. Refiro-me, naturalmente,  à cambalhota. E não tardou, pois ela aí está.
Devido a essa oposição, quatro anos a penar, em grande parte, escusadamente, já ninguém os tira aos portugueses.
Feita a conta, resta apresentá-la aos responsáveis pelo sofrimento escusado. São eles, em primeira linha, Passos Coelho e Paulo Portas. Se, em Portugal, ainda não se perdeu definitivamente o sentido de justiça, espera-se que os agradecimentos a qualquer deles venham sob a forma de voto com os pés. Eu, pelo menos, é assim que lhes vou agradecer.
Há um outro responsável que se chama Cavaco, pelo seu indefectível apoio à política levada a cabo por este governo de farsantes. Felizmente, no caso dele, porque está de abalada e já não pode ser reeleito, o voto com os pés está fora de questão. Resta o voto de desprezo. O meu tem-no.











"Este país não é para doentes"

"A morte de um idoso num serviço de urgência pode ser uma inevitabilidade, por mais dolorosa que seja para a família. Aos profissionais de saúde falta o dom divino de fazer milagres. Mas um idoso morrer na urgência sem ser visto por ninguém habilitado para esse fim é uma indignidade. Uma indignidade extrema, que merece reflexão e resposta célere.
(...)
Por mais que os hospitais abram inquéritos a apurar responsabilidades, e o Ministério da Saúde venha apontar o dedo à organização das escalas dos médicos, há dados objetivos que explicam a anómala situação nas urgências. O Governo português, de acordo com a OCDE, cortou o dobro no financiamento do Serviço Nacional de Saúde do que era exigido no memorando de entendimento com a troika. E também aqui não existem milagres. Sem meios, sem profissionais, é impossível atender os doentes com dignidade. Os sem alternativa, esperam horas e horas a fio nas urgências dos hospitais públicos. Os outros, nem lá vão. Têm seguro de saúde e dirigem-se ao privado. Este país não é para doentes (velhos ou não) desapossados do vil metal."
(Paula Ferreira. Na íntegra no JN. Destaques meus.)

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Trata-te, João Miguel!

A gente já desconfiava, mas, depois de  o próprio se ter dado ao trabalho de o confirmar, deixou de haver dúvidas: João Miguel Tavares sofre de "obsessão com Sócrates".
O rapaz dá-se a tal trabalho para se justificar, mas perde o seu tempo. Na verdade, não há, lendo a fundamentação que apresenta, qualquer explicação racional para a confessada obsessão, pelo que não há modo de fugir à conclusão de que se está mesmo perante um caso de doença.
Diz o Tavares que a obsessão nasceu "com o acumular de casos, casinhos e casinhas" e, de facto, tirando os casos que já foram judicialmente escrutinados e decididos em sentido contrário às suas pretensões, só fala mesmo de casinhos e casinhas. Corrijo-me: também, invoca as "gravíssimas revelações" do Correio da Manha. Não sei que revelações serão essas, porque não sou leitor do pasquim em causa, mas se o obsessivo cronista se entretém a refocilar em tal lixeira, não me admira nada que tenha chegado ao estado em que está. 
Fica o conselho: Trata-te, pá!

Mitómano

Se Passos Coelho acredita mesmo que o Estado Social, com as políticas que o seu governo tem levado a cabo, saiu fortalecido, quando é mais que sabido que as prestações sociais caíram a pique, lançando milhares e milhares de pessoas em situações de pobreza, com esta a aumentar exponencialmente;
Se Passos Coelho acredita mesmo  que salvou o Serviço Nacional de Saúde, quando hoje é mais que evidente que os hospitais vivem uma situação perfeitamente caótica;
Se Passos Coelho acredita mesmo que as suas políticas mudaram o "perfil estrutural" da economia portuguesa, quando se sabe que o crescimento das exportações, hoje em clara desaceleração, nunca atingiu o ritmo de crescimento verificado durante as duas anteriores legislaturas;
Se Passos Coelho, apesar dos factos em contrário, acredita mesmo no que afirma, é porque é um mitómano. 
Dizem que, nos dias hoje, já há tratamento para tudo e mais alguma coisa. Se tal for verdade, também deve haver tratamento para este caso. Tratem-no!
(imagem daqui)

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Cavaco não presta

Lendo este texto publicado no Facebook por Oscar Mascarenhas, até há pouco, "Provedor do Leitor" no DN, é difícil não tirar a conclusão em título. Leia e julgue por si:

O "Expresso", pelo punho e voz do seu diretor - e mais uns corifeus do costume - parece apostado em verberar Mário Soares para, com isso, limpar a imagem de um passado nebuloso de Cavaco. Mário Soares afirmou no DN de hoje, 20 de janeiro, que Cavaco Silva foi um "salazarista convicto" no tempo da ditadura. Que não tem provas do que diz - contrapõe o "Expresso". Portanto, é falso - deduz o mesmo jornal. Também não sei se Cavaco Silva foi um salazarista "convicto". Com o mesmo argumento da falta de provas, não posso afirmar que Cavaco Silva seja ou tenha sido convicto de coisa alguma - a não ser das suas próprias ambições pessoais de poder e sofreguidão por dinheiro (disso há provas sobejas). Poderia dizer que Cavaco, no tempo da ditadura, não foi um anti-salazarista que alguém reconhecesse como tal. Como não sou maniqueísta, não afirmo que, não tendo sido contra, foi a favor. Não. Apenas teve medo. Posso mesmo garantir: borrado de medo. Tenho provas, colhidas por dedução. Eis o que escrevi a 20 de dezembro de 2010 no JN, quando foi revelada uma declaração que Cavaco Silva fez na Pide, para garantir acesso a determinados documentos, necessários não sei para que investigação académica. Se tiverem a paciência de ler "O Tremeliques Palavroso", aí vai: 

«Tive imensa sorte, na minha juventude, por nunca haver sido confrontado com a obrigação de assinar a declaração de «conformidade» do famigerado decreto 27003, exigido pela ditadura.

Seria para mim angustioso sujeitar a honra a uma mentira, mas confesso que, se fosse obrigado, assinaria. Ninguém via heroísmo redentor nessa estóica recusa.
Por bênção dos deuses, o maldito decreto foi revogado por Marcello Caetano antes de a situação se me colocar. Dessa estou «imaculado», mas não atiro um grão de areia a quem firmou de cruz aquele papel: o cobarde não foi quem assinou, cobarde era quem obrigava a assinar.
Por isso, não liguei muito à notícia da declaração assinada de Cavaco Silva à Pide. Só despertei da modorra, quando ouvi o candidato dizer que não se lembrava do episódio. Aí, pára: ou o cavalheiro mente desavergonhadamente, ou sofre de um Alzheimer muito adiantado a justificar um Conselho de Estado para o interditar.
Ninguém, mas ninguém mesmo, se esquece de quando foi obrigado a ir à Pide: fica na memória para sempre. É que esta, para mais, foi uma declaração presencial, certificada na hora pelo chefe de brigada da Pide e por isso dispensada de reconhecimento notarial. Tem ele o despudor de dizer que não se lembra? Abram a ala VIP da psiquiatria, por favor!
A mentira (ou doença incurável do candidato) tornou-me mais atento. O que me chamou mais a atenção foi a anotação final, num espaço de preenchimento facultativo, a dizer que «não priva» com a segunda mulher do sogro, dando o nome completo da senhora.
Ah, isso é demais – e nada tem a ver com "tentativas de o ligar ao anterior regime", como Cavaco se lamuriou. Nada! A ligação é só à sua têmpera, à sua capacidade ou não de enfrentar situações difíceis. Toda a gente de bem que conheci, desafecta ou mesmo afecta ao salazarismo, respeitava este princípio: à polícia (e então à secreta!) só se diz o mínimo. Era questão de fidalguia, de sobranceria, de desprezo. Não era exigido a Cavaco que escrevesse o nome da segunda mulher do sogro e muito menos que declarasse que não privava com ela. Qualquer um com dois dedos de siso saberia que isso iria pôr a PIDE de sobreaviso contra a senhora – ou então queria mesmo denunciá-la.
Cavaco não seria tão reles: apenas estaria tão tremeliques que escreveu até o que não queria, coitado. E logo ele que diz que há palavras de mais na política. Lá sabe do que fala, quando falou, à PIDE, do que não devia ter falado.
A desgraça é que o tremeliques tem ainda menos cura que o Alzheimer.» 

Não quero saber se Cavaco foi ou não salazarista, o que seria a menor das críticas, perante o facto de ter demonstrado ser alguém que espojou a sua vida familiar diante dos esbirros do regime, apontando o dedo à segunda mulher do sogro, sem querer saber se a deixava - e ao sogro - em apuros. Há uma coisa muito pior do que ser um salazarista convicto: é não prestar para nada!»
(via)
(destaque meu)

A auto-regulação é uma treta, mas há quem dela se aproveita

"A ideia de que o mercado é capaz de se autorregular é uma treta", como bem disse Silva Peneda.
De facto, a auto-regulação do mercado, tal como é vendida por ultra-liberais como Passos Coelho, não passa de um logro posto a circular por quem colhe benefícios dessa tese, em prejuízo da grande maioria da população mundial. A dimensão desse logro ficou agora bem à vista com a revelação feita pela Oxfam: "A riqueza dos 1% mais ricos vai superar a do resto do mundo em 2016"
Um resultado que é uma vergonha. Para todos.

Até tu, Brutus?

"Depois do Novo Banco, os portugueses devem preparar-se para ter a Nova TAP. O processo de privatização da companhia, tão necessário para garantir que a TAP mantém e até reforça o seu papel na economia portuguesa, está a correr mal e não se recomenda.
(fonte. destaque meu)

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Um penso rápido

O desinvestimento no Serviço Nacional de Saúde levado a cabo por este governo, traduzido em muitas centenas de milhões de euros, teria, mais cedo ou mais tarde, de ter consequências graves, como foi atempadamente previsto por médicos e outros especialistas na área da saúde. Essas consequências estão agora à vista de todos (especialistas e não especialistas): mortes, incluindo nas urgências, muito para lá do expectável; urgências a rebentar pelas costuras, com tempos de atendimento que envergonhariam até países do terceiro mundo: hospitais sem camas para internamento; doentes em pre-operatório e em pos-operatório, sem quarto onde possam ser alojados, espalhados pelos corredores; e até falta de macas para onde possam ser transferidos os doentes transportados de maca para o hospital, forçando os transportadores a aguardar horas e horas que as macas lhe seja devolvidas.   
Com a pretensão de pôr termo aos caos instalado, o Ministério da Saúde produziu um despacho assinado pelo secretário de Estado da respectiva pasta que tem o mérito de assumir que os problemas de saúde com que os doentes, médicos e outros profissionais de saúde se confrontam, são reais e muito graves e não imaginários. Ao invés, tudo indica que as medidas contempladas não têm a virtualidade, e menos ainda a virtude, de resolver o problema. Dir-se-ia mesmo que algumas em vez de resolver, complicam. Para implementar as outras seria preciso dinheiro e dinheiro é o que o Ministério da Saúde não tem, graças aos cortes deste governo. 
Como não se fazem omeletes sem ovos, é evidente, à partida, que o remédio proporcionado pelo despacho não passa de um penso rápido que, para além de ineficaz para introduzir melhorias na prestação de cuidados de saúde, arrisca-se, por falta de verbas, a nem sequer ser aplicado.
(imagem e notícia daqui)

É hora de acordar!

Um alerta de António Correia de Campos, hoje, no "Público":
«(...)
O PS tem que acordar. A vitória nas eleições está longe de adquirida, mesmo na versão frustrante de simples maioria. Há exemplos de temas e debates cuja preparação o PS não pode deixar para depois, como o do financiamento da Segurança Social (sim ou não à redução da TSU, terrivelmente predadora da competitividade, da inovação e do emprego), e se sim, como? O da reforma do Estado Social (educação, saúde, acção social) numa linha de eficiência, equidade e qualidade. E como lidar com uma administração pública maltratada, ferida e desmotivada, onde escasseiam os verdadeiros dirigentes? São desafios para amanhã, não para o Outono.»

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Uma história (nada) edificante

A ler :" Estado não cumpre e assobia para o lado", por Afonso Camões.
Ler para crer até que extremos vai o jornalismo de sarjeta e até que ponto a honra dum cidadão pode ser manchada por um tablóide, sem a mínima justificação, perante a indiferença da procuradora-geral da República. 
Por esta e por outras não é difícil concluir que a Justiça em Portugal já conheceu bem melhores dias. E, por sinal, o país também.

De regresso ao "antigamente" e ao "orgullhosamente sós" ...

.... Pela mão de Passos Coelho. 
(Roubado ao Porfírio Silva)

domingo, 18 de janeiro de 2015

Porventura inédita, seguramente indecorosa. Em qualquer caso, uma afronta

Sob o título "MP 'vigia' sorteio do recurso de Sócrates", o Correio da Manha, pela pena de Eduardo Dâmaso, afirma que "Rosário Teixeira toma decisão inédita. Exige assistir ao sorteio do recurso de José Sócrates."
Porque não me fio na palavra do Dâmaso não estou certo de que a informação seja verdadeira e também não sei se, sendo verdadeira a notícia,  a "exigência" do procurador Rosário Teixeira é ou não inédita. Do que não tenho dúvidas é que, a ser verdadeira, a "exigência" do procurador é, no mínimo dos mínimos, indecorosa. 
No mínimo dos mínimos, digo eu, porque também pode, e deve, ser vista como uma tentativa de pressão sobre os juízes da Relação. E, como tal, não pode deixar de vista como uma afronta.

Um nojo

Faço minhas as palavras do Miguel Sousa Tavares publicadas no "Expresso" de hoje, edição impressa, a propósito da denúncia do chamado Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional relativamente a um pretenso tratamento de favor dado a José Sócrates detido, sem culpa formada, há 2 meses, no Estabelecimento Prisional de Évora: 
"(...) Já vi muitos tipos de sindicatos e de sindicalismos, alguns dos quais muito pouco recomendáveis. Mas nunca tinha visto nada tão aviltante como a denúncia, por confirmar, do Sindicato dos Guardas Prisionais, de que José Sócrates terá feito telefonemas de uma zona não autorizada da prisão de Évora e que, crime dos crimes, usará umas botas que não são as do regulamento. E que tais factos estarão a pôr em causa "a segurança da prisão". Isto não é sindicalismo: é canalhice, pura e simples. É a miserável valentia lusitana de pisar e descalçar as botas de quem já está caído".
Sem dúvida: uma atitude como a dos dirigentes do dito sindicato só pode provir de gente muito reles. Esta gente e este sindicato metem nojo!

sábado, 17 de janeiro de 2015

De facto, não faz sentido

Balsemão, militante número 1 do PSD, discursando numa iniciativa partidária, no Cadaval, afirmou que "não faz sentido entregar o poder a quem provou que não sabe governar".
Tem Balsemão toda a razão. De facto, só se os eleitores forem masoquistas é que terão a veleidade de repetir uma votação que, da última vez que foram às urnas em eleições legislativas, bem cara lhes saiu.
Por isso mesmo, também não faz sentido que o cavalheiro, na mesma ocasião, se tenha declarado confiante na vitória do seu partido nas próximas legislativas, precisamente numa altura em que, com a trapalhada à volta da privatização da TAP, ficou mais uma vez provada a incompetência do governo liderado por Passos Coelho, incompetência que consegue ultrapassar, imagine-se, a de um outro governo do PSD, o da "má moeda", então liderado por Santana Lopes, cuja incompetência se julgou, durante muitos anos, ser inultrapassável. 
Tal juízo veio, no entanto, a ser desmentido pelo actual que, em boa verdade, nem governo chega a ser, pois não passa de uma Comissão Liquidatária, às ordens da senhora Merkel e Cª. 
Tudo visto, bem se pode dizer que a confiança de Balsemão na vitória do seu partido, só faz sentido, de facto, se a lógica de Balsemão for a chamada "lógica da batata". 


sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Passos Coelho contrariado...

«(...)

Os dogmas em que se fundou a política de austeridade, que orientou a resposta errada da União Europeia à crise financeira, estão a cair uns atrás dos outros. Afinal, nem o mandato do BCE impedia uma resposta mais eficaz à especulação instalada nos mercados de dívida soberana, nem as regras do Pacto de Estabilidade e Crescimento são incompatíveis com uma política orçamental menos danosa para a economia e para o emprego. Sem alterar uma vírgula no Tratado de Lisboa ou nas regras do Pacto, o tom da resposta europeia à crise começa a mudar: primeiro, graças à política monetária expansionista do BCE (em breve reforçada com um programa de Quantitative Easing); depois, pela nova orientação da Comissão Juncker, com o seu plano de investimento (público e privado) e a sua abertura à flexibilidade orçamental.

Duas razões explicam esta evolução. A primeira, é a própria evidência do fracasso da política de austeridade. A segunda, é a forte pressão política dos socialistas em todas as frentes da política europeia: no Parlamento Europeu (em que o seu voto é decisivo); no Conselho (graças à liderança de Matteo Renzi na presidência italiana) e no interior da Comissão (desde que o socialista francês Pierre Moscovici substituiu o liberal Olli Rhen nos assuntos económicos). Não será ainda a mudança de que a Europa precisa mas é bastante melhor do que tinhamos com a Comissão Barroso - que era nada.

Finalmente, a "flexibilidade" orçamental deixou de ser um conceito vazio para ganhar sentido e substância, embora com latitude diferente para quem esteja ou não em défice excessivo. Doravante, a Comissão promete tomar em conta o contexto do ciclo económico e a realização de reformas estruturais na ponderação dos esforços orçamentais de cada país e mesmo na permissão de desvios em relação às metas do défice. Mas também promete uma política orçamental mais amiga do investimento, por duas vias: primeiro, não contabilizando no défice as contribuiçoes dos Estados para o novo Fundo europeu de investimento; segundo, adoptando uma interpretação mais generosa da chamada "cláusula de investimento" de modo a permitir que os Estados que não estejam em défice excessivo se desviem temporariamente das metas do défice para aumentarem o investimento público.

Esta evolução, embora ainda tímida e compromissória, é da maior importância também para Portugal. É certo que a nova formulação da "cláusula de investimento" não permite aos Estados em situação de défice excessivo, como é o nosso caso, isentar do défice a comparticipação nacional dos projectos financiados com fundos comunitários da mesma forma que se isentam as contribuições para o Fundo europeu de investimento - um manifesto absurdo, que importa corrigir.

Mas, além das vantagens indirectas que sempre virão para as exportações portuguesas de políticas orçamentais menos restritivas dos nossos parceiros europeus com mais margem de manobra, Portugal beneficia directamente de três importantes implicações desta nova flexibilidade: primeiro, pode desde já aceder a um calendário de ajustamento mais alargado em contrapartida da realização de reformas esruturais; segundo, as suas metas passam a ser definidas e avaliadas ponderado o impacto orçamental das quebras da actividade económica que escapem ao controlo do Governo; terceiro, a despesa pública que Portugal fizer em contribuição para o Fundo europeu de investimento não será contabilizada para o défice. Tudo isto, é claro, Passos Coelho combateu, sempre fiel à "linha dura" da austeridade. Mas de tudo isto Portugal poderá beneficiar, apesar dele.»
(Pedro Silva Pereira; "Melhor que nada". Na íntegra: aqui)

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

"Nuvem negra"


«Numa economia normal, o emprego dependeria do crescimento económico e o desemprego seria o que resultaria da criação ou não dele.
Em Portugal, nos últimos tempos não tem sido bem assim. Por várias razões. Inserindo-se numa zona de livre circulação de pessoas, emigra-se. As políticas ativas de emprego, suportadas por fundos europeus e pela Segurança Social, têm ocupado, como nunca, muitos desempregados. A dimensão da austeridade, destruindo a esperança, desencoraja a procura de emprego, condição estatística para ser desempregado.

(...)
Em 2015, a nuvem desemprego continuará elevada. Estável, ficticiamente, se houver emigração e capacidade orçamental para ocupar desempregados. Piorará, se o petróleo devolver, de Angola ou Brasil, portugueses emigrados.
Sem um crescimento económico próximo dos 2%, o desemprego será sempre uma nuvem negra. Nenhuma organização previu aquele valor. Logo, assim continuará, negro. A novidade, não esperada, da queda dos preços do petróleo, a par das taxas de juro, pelos efeitos nos preços dos combustíveis e nos encargos com a habitação, podem renascer alguma procura interna que sustente o crescimento. Ou, então, as cidades de Lisboa e do Porto talvez possam continuar a ter um ano turístico excecional. A economia, continua, contudo, na sua generalidade, muito ténue para inverter o ciclo negativo dum triénio a empobrecer.»
(Francisco Madelino. Na íntegra: aqui)

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

A "verdadeira mudança"

Passos Coelho, tal como é referido no "post" anterior, afirmou, no discurso proferido na abertura do XV congresso regional do PSD/Madeira, que o seu governo "trouxe a verdadeira mudança a Portugal".
Não se pode negar a evidência. Coelho tem toda a razão e o insuspeito Conselho Económico e Social, presidido por um companheiro de partido do primeiro-ministro da "Tugalândia", confirma: "as políticas em curso têm agravado as desigualdades e são um obstáculo ao desenvolvimento do país e à melhoria das condições de vida. "
Quem sou eu para o desmentir?
(Na imagem: Silva Peneda. Imagem daqui)

Até na modéstia é falso

Um indivíduo a discursar no XV congresso regional do PSD/Madeira afirmando que o seu partido "não conseguiu fazer milagres", mas garantindo, ao mesmo tempo, (não fazendo a coisa por menos) que o seu governo "trouxe a verdadeira mudança a Portugal" diz bem do que ele é: até na modéstia é falso.

sábado, 10 de janeiro de 2015

Nuvens negras

"Desemprego em Portugal aumenta pelo segundo mês consecutivo", atingindo em Novembro 13,9% da população activa, ou seja, mais 0,3% do que em Outubro. Aquela percentagem significa que em Novembro havia "713,7 mil desempregados, mais 17,4 mil do que em Outubro" segundo dados do INE. 
Pelos vistos, as nuvens são tão negras que o governo já não consegue disfarçar os números do desemprego com as medidas que tem vindo a tomar com essa finalidade.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Nuvens

"As exportações portuguesas voltaram a entrar em terreno negativo, recuando em Novembro 0,4% face ao mesmo mês do ano anterior."
Em contrapartida,  "as compras ao exterior aumentaram 2,8% em termos homólogos, mas, excluindo os combustíveis, o aumento seria de 5,4%."
Resultado: "nova degração na balança comercial de bens, que apresenta agora um défice de 9.616 milhões de euros - mais mil milhões do que em 2013." (Fonte)

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

"Carta a Guterres"

«(...)

Em 6 de dezembro de 2012, escrevi nas páginas do Correio da Manhã que António Guterres, "nesta hora difícil, tem o dever de colocar todas as suas capacidades e o capital de prestígio internacional que acumulou ao serviço de Portugal (e) assumir uma candidatura a Presidente da República". Fundamentei esse dever cívico no reconhecimento, pelo próprio, de que "ainda não fomos capazes de ressituar o país por forma a podermos garantir aos nossos cidadãos melhores níveis de emprego e de bem-estar" e na assunção, ao menos implícita, da respetiva quota-parte de responsabilidades. Estas linhas parecem-me cada vez mais atuais. Numa altura em que muitos cidadãos descreem da III República e do próprio Estado de direito democrático, não vejo alternativa fácil à candidatura de António Guterres. Nobreza de caráter, sensibilidade ético-social, inteligência brilhante e vasta experiência política são as qualidades que, sem grande originalidade, lhe apontei há dois anos e reitero agora. Essas qualidades não farão de Guterres um homem providencial mas renovam a esperança de muitos dos seus concidadãos. Vai dizer presente ou meter cera nos ouvidos?»
(Rui Pereira. Na íntegra: aqui)

Assino.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

"Je suis Charlie"

O massacre perpetrado em Paris contra o jornal satírico "Charlie Hebdo" pode, eventualmente, ser visto como um acto de vingança, com a trágica consequência da morte de doze pessoas, mas é sobretudo um atentado contra a liberdade de expressão. Nesse sentido é um ataque dirigido contra cada um de nós. E, por isso, de algum modo, vítimas somos também todos nós. É esse o significado, suponho eu, da expressão em título. Pelo menos, é esse o significado que lhe atribuo.
A par da solidariedade para com as vítimas, usar da palavra para manifestar o mais profundo repúdio por este acto bárbaro é o mínimo que nos é exigível e que podemos fazer.

"Fiscalidade negra"

«(...)
A fiscalidade verde é o último logro de uma longa série de fábulas e lengalengas que os nossos governantes insistem em derramar sobre as nossas incautas e crédulas cabeças.
(...)
Ou seja, em primeiro lugar não é uma reforma, é meia dúzia de medidas desgarradas para ir buscar receita. Em segundo lugar, esta não é fiscalidade verde, é bem negra, incidindo sobre um bem que já é o mais taxado de todos. 
(...)
A verdade é só uma: o Governo quis dar um bónus eleitoralista em 2015, e inventou mais taxas e taxinhas para cobrir essa menor receita em IRS. Uma reforma verde, uma verdadeira reforma verde, não devia ter "neutralidade fiscal" nestes termos, que demonstra logo à partida qual o seu prosaico objectivo. Eu assumiria melhor o custo acrescido de uma verdadeira reforma, estrutural e de longo prazo, de forma a tornar o nosso país mais sustentável, mesmo que isso me custasse mais. Mas recuso é ser tratado como tolo, por mais papas e bolos, verdes ou de qualquer cor, que nos tentem enfiar pela goela abaixo.»
(Tiago Freire. Na íntegra: aqui)

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

E ainda há quem se disponha a votar nesta corja?

"Acesso às urgências complicado e internamentos bloqueados nalguns hospitais"

O caos instalado nos hospitais com dramáticas consequências, incluindo, nalguns casos, a morte de  pessoas nas urgências, tem que ser imputado a este governo e à política de austeridade que tem vindo a prosseguir, seguindo o lema do "custe o que custar". Os custos da austeridade na saúde estão já vista e não é preciso ser adivinho para antecipar que os custos vão continuar a aumentar.
O cidadão eleitor está espera de quê para desalojar esta corja?
(Notícia e imagem daqui)

A plataforma laranja

Como, felizmente, António Costa não lhe largou as amarras, a plataforma laranja não chegou a zarpar do porto.
Amarrada fica. E bem.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

A "troika" tem costas largas

Num momento de sinceridade, nele muito raro, Passos Coelho afirmou que não via no memorando acordado com a "troika" qualquer entrave ou limitação ao seu mandato como novo primeiro-ministro, garantindo mesmo que o seu governo estava determinado a "ir além da troika", no tocante a medidas de austeridade. 
Foi dito e feito. O caso agora noticiado (Função Pública encolheu o dobro do exigido pela troika) é mais uma prova disso, entre muitas outras.
Todavia, os factos demonstram-no, a verdade na boca de gente como Passos Coelho dura tanto tempo quanto "manteiga em focinho de cão". Num ápice, desaparece.
Não admira, por isso, que, postos perante a desgraça a que a política de austeridade "além da troika" conduziu o país, Passos Coelho e demais gente da sua igualha, atirem as culpas para cima da troika, achando porventura que esta tem costas largas. De facto, deve ter, porque não alijou do capote as responsabilidades que não lhe cabem. Mas, se a troika tem as costas largas, não é menos verdade que Passos e a sua gente têm muita falta de vergonha. Tanta ou tão pouca que nem sequer assumem que a vinda da troika foi insistentemente reclamada pelos dois partidos da actual maioria (PSD e CDS)  e que o memorando foi "cozinhado"com a sua participação e foi por eles assinado.
E ainda há quem se disponha a votar em tal corja!

SNS!

"Nascer em ambulâncias, morrer nas urgências"
(Um "post" que é uma chamada de atenção plena de oportunidade)

É só penas. Alheias.

O governo de Passos, Portas & C.ª faz-me lembrar, irresistivelmente, uma galinha enfeitada com penas de pavão. 
Não se passa um só dia que não tenhamos que ouvir falar dos sucessos deste execrável governo, quando a realidade nos mostra, também todos os dias, que os alegados sucessos não têm qualquer correspondência com a realidade.
Nem é preciso fazer grandes indagações para chegar a uma tal conclusão. De facto, todos os indicadores são de molde a contrariar o discurso optimista do governo, ou o de Cavaco, que é o mesmo, e de tutti quanti.
E, por isso, nem se justifica perder tempo a fazer a demonstração, porque é por demais evidente que o resultado da política de austeridade "além da troika" levada a cabo por Passos & Portas, com o apoio entusiástico de Cavaco, se traduziu num enorme retrocesso verificável em todos sectores da vida do país, medindo-se esse retrocesso nalguns casos, em dezenas de anos.
Não há, realmente, um único sector que tenha escapado à fúria destruidora deste governo. Nesse sentido, sim, pode falar-se de sucesso, pois, se a ambição de Passos, Portas & Cavaco era o "empobrecimento do país" como aquele proclamou solenemente, então temos de convir que a política seguida durante esta legislatura teve um enorme sucesso. Para o comprovar aí estão: os indesmentíveis aumentos da pobreza e do desemprego; a emigração maciça durante os anos desta legislatura, emigração que, em números, já anda pelas 400 mil almas forçadas a procurar emprego no estrangeiro; os cortes nos subsídios sociais aos mais carenciados; o recuo do PIB; a degradação da escola pública visando a sua destruição em benefício dos privados; a degradação do SNS, de que, nos últimos tempos, temos visto claríssimos sinais, com idêntico objectivo; e, last but not least, o crescimento imparável da dívida pública, em  termos nunca vistos, apesar de este governo ter passado a patacos quase tudo o que, fazendo parte do património do Estado, havia para vender.
Não obstante, os governantes, os políticos da maioria e os seus lacaios e apaniguados não cessam de cantar loas a esta governação desastrosa. Com frequência, em abono da suas teses, recorrem ao facto de os juros da dívida pública terem vindo a baixar, consecutivamente, batendo sucessivos recordes no sentido da baixa.
É verdade, e não é sério negá-lo, nem há nenhuma vantagem em dizer o contrário, que os juros têm vindo a baixar, mas também não é menos verdade que é uma redonda mistificação imputar esse resultado à política económica do governo. Não há um único economista politicamente independente que não atribua a continuada baixa da taxa de juro da dívida pública portuguesa ás medidas tomadas pelo BCE. 
Em bom rigor, nem sequer é necessário ser economista para se chegar a tal conclusão, pois é patente para qualquer pessoa que as sucessivas baixas das taxas de juro da dívida pública portuguesa têm ocorrido ao mesmo tempo que nos outros país países europeus e em particular nos países periféricos com taxas de juro mais elevadas, incluindo a Grécia (porventura o Estado que por maiores dificuldades tem passado) e sempre na sequência de tomadas de posição por parte do BCE. Um episódio recente acaba de confirmar a asserção: "Declarações do presidente do BCE levaram a novos mínimos históricos nos juros da dívida dos periféricos (...)"
O governo sabe perfeitamente, porque pode ser chefiado por um aldrabão contumaz, mas tem no seu seio gente que não é tola, que não lhe cabe qualquer mérito na descida das taxas de juro da dívida pública.
É ao proclamar os méritos devidos inteiramente à acção do BCE, como seus, que este governo se assemelha a uma galinha com penas de pavão. De facto, tal como a sobredita galinha,  o governo enfeita-se com penas que não são suas. E digo "assemelha", porque, em boa verdade, este governo nem galinha chega a ser. É só penas. Penas de outrem (os milhões de portugueses vítimas da sua política), que não dele, nem dos boys ao seu serviço.

domingo, 4 de janeiro de 2015

Em delírio

Em notícia publicada, on line, pelo DN, com o título "Procurador e juiz acusam Sócrates de manipular investigação com entrevistas" é afirmado que "O procurador do Ministério Público, Rosário Teixeira, (imagem ao lado) e o juiz de instrução criminal, Carlos Alexandre,(imagem infra) estarão convencidos que as entrevistas dadas por José Sócrates à comunicação social são uma forma de reproduzir o que foi dito em interrogatório judicial, logo, um exemplo claro de violação de segredo de Justiça." acrescentando-se, além do mais, que "Declarações como as que Sócrates enviou à TVI em resposta a seis perguntas, representarão, para os magistrados, um contraditório na comunicação social, criando um ambiente adverso à investigação e pondo em causa recolha e conservação da prova. Isto porque as entrevistas podem pôr em risco diligências em curso na investigação", diligências que, ao que o DN apurou, se destinam à recolha de "provas junto de editoras, empresas imobiliárias e agências de viagens".
Não garanto a veracidade da notícia, pois as afirmações são, não só ridículas, como não têm a menor base de sustentação, mas a ser verdadeira a imputação da sua autoria aos dois referidos magistrados, então teremos de concluir que os riscos invocados [de violação do segredo de justiça (a toda a hora violado com a cobertura e conivência dos dois responsáveis pelo processo) e de perturbação da investigação] só podem provir de duas mentes delirantes. De duas mentes delirantes ou de dois fulanos armados em justiceiros que, perante o esfumar dos pretensos indícios, começam a ter noção de que se meteram numa grande alhada.

O texto da entrevista de José Sócrates

«Dou esta entrevista em legítima defesa. Em legítima defesa contra a sistemática e criminosa violação do segredo de justiça; e contra a divulgação de “informações” manipuladas, falsas e difamatórias. Em legítima defesa contra a transferência do julgamento para uma praça pública onde só pode fazer-se ouvir uma voz e onde só pode circular livremente uma versão deturpada das coisas. Em legítima defesa contra uma agressão feita cobardemente, a coberto do anonimato, como é típico dos aparelhos burocráticos onde reina o “governo de ninguém” – “ninguém” o exerce, “ninguém” presta contas. 

Esse poder obscuro é puro arbítrio e despotismo: impunidade absoluta, limitação infundada e desproporcionada de direitos fundamentais, segredo imposto apenas à defesa, proibição de entrevistas, impossibilidade de contraditório, condenação antes de qualquer julgamento, sanção antes de qualquer sentença. Este poder, quero crer, não durará. É precário como todos os poderes assentes no medo e sobreviverá apenas até à plena tomada de consciência do perigo que representa para o processo penal justo, fundamento primeiro do Estado de Direito. 

No que me diz respeito, responsabilizo directamente os que, tendo o processo à sua guarda, não o guardaram como deviam. Como está à vista de todos, não estiveram à altura das suas responsabilidades e não fizeram bem o seu trabalho. O que não me deixa outra alternativa senão fazer tudo o que estiver ao meu alcance para defender a minha honra e o meu bom nome. 

Faço-o aqui, respondendo às perguntas que me foram entregues através do meu advogado, porque foram as primeiras a chegar. Lamento que o Jornal Expresso, com o qual combinei uma entrevista, tenha decidido publicar as suas perguntas (antes mesmo de eu as conhecer) desacompanhadas das respectivas respostas. Mas que fique claro: não deixarei nenhuma pergunta assim, a pairar no ar acrescentando dúvidas sem obter a devida resposta. 

Pergunta 1: Foi confrontado com provas, quando foi interrogado pelo juiz Carlos Alexandre? 

Essa é a questão essencial. Não, não fui – nem confrontado com factos quanto mais com provas. E isto é válido para todos os crimes que me imputam, que considero gravíssimos para quem exerceu funções públicas. 

Tomemos, por exemplo, e por economia de resposta, o crime de corrupção que é, para mim, o mais detestável, o mais ignominioso que pode ser imputado a um ex-governante. Pois bem, apesar da minha insistência, nunca, em nenhum momento, nem a acusação nem o juiz foram capazes de me dizer quando e como é que fui corrompido, onde ou sequer em que país do Mundo essa corrupção aconteceu, nem por quem, a troco de quê, qual a vantagem que obtive ou qual a que concedi, lícita ou ilícita. Nada, rigorosamente nada! 

Esta é a verdade. Por estranho que pareça - e deve parecer estranho porque não conheço nenhum caso semelhante - a corrupção em nome da qual me sujeitaram à infâmia desta prisão preventiva é uma pura invenção, uma "hipótese de trabalho" teórica da investigação, um crime presumido, sem qualquer concretização ou referência no tempo ou no espaço e do qual não há, nem podem existir, indícios ou provas. E por uma razão simples: porque não aconteceu. O que afirmo, portanto, é que fui detido e preso (preventivamente) sem me terem sido referidos nem factos, nem provas de que tenha cometido quaisquer crimes, a começar pelo crime de corrupção que estaria na origem de tudo. A partir daí, este processo é todo ele uma caixinha de presunções, em que as presunções assentam umas nas outras numa construção elaborada mas absolutamente delirante. Começando por presumir, sem qualquer sustentação digna desse nome, que o dinheiro do Engº Carlos Santos Silva é afinal meu, deu-lhes para presumir, embora sem qualquer prova ou indício, que obtive esse dinheiro através de corrupção, sabe-se lá quando nem onde. E é com base nesta teoria, toda ela inventada, que presumem também os outros crimes porque, a partir daí, todas as movimentações financeiras daquele dinheiro são entendidas como operações minhas que configuram branqueamento de capitais e fraude fiscal. É uma imaginativa cascata de presunções. Mas não passa disso. 

Como já escrevi, a prisão preventiva foi aqui utilizada para investigar mas também para aterrorizar, para despersonalizar - e para calar. Hoje, quero dizer mais: neste caso, prendeu-se também para, em certo sentido, "provar". Porque quem quis esta prisão infundada sabe bem que a prisão funciona como prova aos olhos da opinião pública – "se está preso alguma coisa deve ter feito", é o que as pessoas tenderão a pensar. E muitas, na sua boa-fé, estarão convencidas de que para haver prisão preventiva é porque hão-de existir, na parte ainda secreta do processo - por azar, logo aquela única parte a que os jornais não conseguiram ter acesso... - "provas muito sólidas" ou pelo menos "indícios muito fortes" da prática dos tais crimes graves. Mas a verdade é que não há. E todos sabemos que se isso existisse já teria sido publicado nos jornais do costume! Só que, entretanto, aos olhos da opinião pública, a prisão substitui-se ao processo, à investigação, à instrução, aos indícios, às provas, ao contraditório, ao julgamento - e até à sentença. Afinal, se ele está preso, que mais é que ainda é preciso provar? A resposta, porém, por estranho que pareça, é esta: tudo. Falta provar rigorosamente tudo. 

Isto, obviamente, é gravíssimo. Mas não é, ao contrário do que alguns têm dito, um problema da lei, que até evoluiu no sentido de contrariar o abuso da prisão preventiva. Não tenho a mínima dúvida de que esta prisão preventiva é ilegal e por isso confio no sucesso do recurso que a minha defesa apresentou. Grave é que se tenham degradado tanto os valores do nosso Estado de Direito a ponto de se ter instalado uma cultura de tolerância para com tudo isto: prisões sem provas ou sequer fortes indícios de crimes que ao menos se perceba quais são! Lamento dizê-lo, mas daqui à suspeita de perseguição política não é um passo de gigante, é um pequeno passo. 

Pergunta 2: Como encara o que está a acontecer? E, caso tenha acesso, como encara o que tem sido publicado?

Ao que já foi dito, junto apenas a observação seguinte: à prisão física sempre quiseram somar, em certo sentido, a prisão na opinião pública. De um lado, podem ser divulgadas todas as mentiras e todas as falsidades; do outro, são proibidas as entrevistas e coartado o direito de defesa da honra. Não me submeto a tal imposição, que é contrária aos direitos fundamentais. Mas sei que quando decidiram proibir-me de falar, o que pretendiam conseguir era que tudo estivesse do lado deles – o procurador, o juiz, os jornais. E podem, de facto, ter muito do lado deles. Menos a verdade. Essa, não está do lado deles. E é pelo triunfo da verdade que lutarei. 

Pergunta 3: Como classifica a prisão do seu amigo Carlos Santos Silva e do seu motorista João Perna? 

Ambas são, cada uma à sua maneira, injustas e injustificadas. No fundo, essas prisões foram ordenadas, como a minha, sem factos que as possam fundamentar. E isso é terrível! No caso de João Perna, tratou-se, patentemente, de utilizar a prisão para aterrorizar uma pessoa que julgavam vulnerável de modo a tentar obter sabe-se lá que informação. Um abuso. No caso do engenheiro Carlos Santos Silva, dói-me profundamente a sua situação, que permanece. Somos amigos há 40 anos, a nossa amizade é anterior ao início da nossa atividade profissional. É uma relação especialmente fraterna. E não posso esquecer que este meu amigo está a sofrer na prisão essencialmente por ser meu amigo e por me ter ajudado quando precisei. 

Pergunta 4: Que comentário lhe merece as suspeitas que têm surgido a propósito do apartamento de Paris e do seu estilo de vida, da venda das casas da sua mãe, dos negócios com Rui Pedro Soares, das entregas de dinheiro que Carlos Santos Silva lhe fez, e das idas a Paris do seu motorista alegadamente com malas de dinheiro? 

Respondo, um a um, aos vários pontos referidos, porque é preciso que nada fique por esclarecer. Mas não quero deixar de chamar a atenção para o mais importante: os “factos circunstanciais” que me imputam não têm rigorosamente nenhuma conexão com crimes. Nenhuma. Por vezes chega a ser difícil separar a investigação e as notícias que têm vindo a ser publicadas da pura bisbilhotice (ou devassa). Mas vamos por partes. 


A) As "entregas de dinheiro" do Eng. Carlos Santos Silva

Confirmo, sem qualquer problema, que face a algumas dificuldades de liquidez que atravessei em certos momentos, sobretudo desde que tive parte da minha família em Paris e eu próprio vivi entre Lisboa e aquela cidade, recorri várias vezes a empréstimos que o meu amigo Carlos Santos Silva me concedeu para pagar despesas diversas. Mas, sinceramente, não me parece que pedir dinheiro emprestado a um amigo seja crime, nem aqui nem em nenhuma parte do Mundo! Sempre foi, como continua a ser, minha intenção pagar-lhe o que for devido, apesar da informalidade da nossa relação e da grande amizade pessoal que nos une desde há muitos anos. É um assunto que resolverei com ele e que só a nós diz respeito. 

Para o caso, o que importa deixar claro é que o facto de o Engº Carlos Santos Silva me ter emprestado dinheiro, muito ou pouco, não transforma o dinheiro dele em dinheiro meu! Isso, convenhamos, é um completo disparate! Acontece que o Engº Carlos Santos Silva detém, como é sabido, meios próprios de fortuna pessoal fruto da sua diversificada atividade empresarial em vários países do Mundo. E, sendo meu amigo, esteve disponível para me ajudar quando eu precisei. Estou-lhe grato por isso. Mas não deixarei de lhe pagar! A afirmação de que o dinheiro dele é meu é simplesmente absurda e não tem qualquer fundamento. 

B) O motorista, Paris e as "malas de dinheiro" 

Aqui entramos na dimensão galáctica da investigação. A verdade, como já foi explicado pelo meu advogado, é esta: nunca o meu motorista foi a Paris; nunca me levou nenhuma mala de dinheiro; e nunca o meu carro foi além de Espanha (onde fui passar curtos períodos de férias e pouco mais). Mas o que acho curioso é que certos jornais e certos jornalistas se tenham disponibilizado para escrever que haveria no processo fotografias fatais do motorista a transportar as tais "malas de dinheiro" para Paris. Porque é exatamente aqui que toda esta história passa do cinzento filme policial para o mundo fantástico da ficção científica: o momento memorável em que surgem em cena essas máquinas fotográficas tão espantosas e tão avançadas que tiram fotografias onde até se consegue ver o que vai dentro das malas...! 

O facto de a acusação ter posto a correr nos jornais esta pura invenção diz muito sobre os métodos de uns e de outros. E mostra bem até onde estão dispostos a ir para me atingir. Não tenho, hoje, a menor dúvida: para alguns, vale tudo. 


C) O "apartamento de luxo" em Paris

Factos. Em 2011, depois de sair do Governo, aluguei um apartamento em Paris, onde vivi um ano. Só mais tarde, a partir de meados de 2012, e por cerca de 10 meses, habitei num outro apartamento, o tão falado "apartamento de luxo" de que é proprietário o meu amigo Engº Carlos Santos Silva. Residi aí apenas enquanto não começaram as obras de restauro que ele tinha planeado para recolocar esse apartamento no mercado (como de facto fez, a partir de finais de 2013). Assim, quando as obras começaram (Verão de 2013), saí desse apartamento, tendo a minha família passado a viver num aparthotel, durante cerca de 4 meses (Setembro a Dezembro de 2013). Depois, desde Janeiro de 2014, aluguei um novo apartamento, onde vivi, e viveu também a minha família, ao longo do último ano. No momento em que escrevo, ainda estou a pagar essa renda (sendo que o contrato termina em 31 de Dezembro de 2014). 

A tese que me imputa ser eu o dono do famoso "apartamento de luxo" de Paris, para além de não ter a mais pequena sustentação - que não tem - é também completamente absurda! Como será óbvio para quem esteja de boa-fé, se eu quisesse realmente comprar uma casa para ficar durante o período do meu curso em Paris (cerca de dois anos) não iria escolher, já quase no final do primeiro ano, um apartamento a precisar de obras, para depois ter de enfiar a minha família durante meses num aparthotel! E menos sentido faz que eu, sendo alegadamente proprietário (por interposta pessoa) desse tal "apartamento de luxo", tenha precisado de alugar um novo apartamento a partir de Janeiro de 2014, quando já estavam concluídas as obras no fantástico apartamento que dizem ser "meu"!! Por aqui se vê que toda a tese da investigação sobre as casas de Paris, além de falsa, é um verdadeiro monumento ao absurdo. Vejamos: através do meu amigo, eu teria comprado um apartamento de luxo para morar durante o meu curso em Paris; por razões que a razão desconhece, em vez de escolher um apartamento pronto a habitar, fui logo escolher um apartamento que precisava de obras; e quando terminaram as obras, em vez de ir morar para lá, "à grande e à francesa", acabei afinal por ir morar para outro lado, um apartamento mais pequeno que aluguei e tive de pagar! Creio que todos já terão compreendido o óbvio: nada disto faz sequer sentido. 

Em contrapartida, a verdade, talvez por não ser inventada, tem também a vantagem de ser muito mais compreensível do que a absurda teoria da investigação: durante a minha permanência em Paris, entre outras soluções em apartamentos que aluguei e em aparthoteis em que fiquei, houve um período de apenas 10 meses em que, a convite do meu amigo Engº Carlos Santos Silva, residi num apartamento que ele ali comprou como investimento imobiliário, com a intenção de o valorizar (fazendo obras) e depois revender com lucro - como está, de facto, a tentar fazer. Enquanto as obras não começaram, aproveitei o convite e fiquei lá; assim que as obras começaram, tive de sair e procurar por mim outras soluções. Há suspeitas que só existem quando se quer muito acreditar nelas! 

D) A venda da casa da minha mãe

Respondo à questão da venda do apartamento da Rua Braamcamp, já que a venda dos outros dois (no Cacém) foi conduzida pelo meu falecido irmão e não tenho ainda comigo todos os elementos (só poderia citar os pormenores de memória, por ouvir dizer, e não quero correr o risco de errar). Mas da venda da casa da minha mãe em Lisboa ocupei-me eu e conto rapidamente a história, que é simples. Em 2011, quando fui viver para Paris, a minha mãe ficou a viver sozinha no prédio da Braancamp. Em 2012, comunicou-me que queria ir viver para outro apartamento que tem em Cascais, onde teria pessoas queridas por perto. Uns tempos depois, eu próprio falei com o Eng. Carlos Santos Silva e contei-lhe da vontade da minha mãe, tendo ele manifestado interesse em comprar o apartamento que iria ficar disponível em Lisboa, desde que o preço fosse razoável. 


Assim, pediu-se uma avaliação prévia do valor do imóvel, estabeleceu-se o preço, fez-se a escritura e o apartamento mudou de dono - que, julgo eu, o renovou e o alugou em seguida. Do dinheiro da venda, a minha mãe, como é seu direito e é normal entre pais e filhos, fez-me doação dos 75% que podia dar-me em vida (sendo eu filho único, depois do falecimento dos meus dois irmãos). E faço notar o seguinte, que me parece importante: esta venda não aumentou em nada o meu património ou o da minha família. O que se fez foi trocar o imóvel que a minha mãe já tinha pela liquidez correspondente ao seu verdadeiro valor. O património que já estava na família permaneceu na família, agora convertido em liquidez. Uma venda, aliás, é isso mesmo. E foi o que foi feito. 

Acho espantoso que alguém pretenda ver nisto uma "venda simulada", como agora dizem. Tanto quanto imagino, as vendas verdadeiramente simuladas não se fazem pelo preço de mercado, não obrigam ao abandono do imóvel pelo vendedor e não acabam no aluguer a terceiros pelo novo proprietário! Esta é apenas outra história mal contada por quem conduz esta investigação contra mim. 

E) Negócios do futebol com Rui Pedro Soares

Bom, este ponto, se não fosse trágico, era de rir à gargalhada. A resposta é simples: não tenho nada que ver com os negócios entre o Eng. Carlos Santos Silva e o Dr. Rui Pedro Soares. Ponto. Não tive deles conhecimento, nem tinha que ter; não conheço as empresas de que falam, nem sei quem são os seus gerentes ou administradores. Em suma, nada sei e nada tenho que ver com tais negócios. Mas o que mais me impressiona nesta história é o fantástico silogismo da investigação, de extraordinário alcance: Carlos e Rui fazem negócios; Carlos e Rui são amigos de José; logo, José está envolvido nos negócios. Notável, não vos parece? 

Pergunta 5: É verdade que sabia que estava a ser investigado? Desde quando? 

Não, não sabia, não fazia a mínima ideia (até às buscas em casa do meu filho). Tento não ligar muito aos rumores e dou algum desconto às notícias de certos jornais. De qualquer modo, depois do episódio da revista Sábado, com o desmentido da Procuradoria Geral da República, nunca mais liguei a isso. 

Pergunta 6: A menos de um ano de eleições, considera que este processo pode ter fins políticos? 

Desconheço as motivações deste estranho processo sem indícios nem provas, onde todos os crimes são vagamente presumidos e só a prisão é concreta. Mas já disse e mantenho: este processo, pela sua natureza, tem contornos políticos. E digo mais: este processo é, na sua essência, político. No sentido em que tem que ver com o poder, os seus limites e o seu exercício; o poder de deter para interrogar e o poder de prender preventivamente pessoas inocentes. Já para não falar nas consequências que este processo inevitavelmente terá na disputa política. Veremos quais. Como já disse, isto ainda agora começou.»
(Transcrito daqui)

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

A defesa de José Sócrates.


Imprescindível ouvir.
Via Miguel Ângelo

«Uma mensagem para não ficar na história»?


"Uma mensagem para não ficar na história" é o título dado ao editorial do "Público" de hoje, texto em que é comentada a mensagem de Ano Novo de Cavaco Silva. A esse título acrescento eu um ponto de interrogação.  Se assim procedo não é por discordar  da substância do editorial que não me custa nada subscrever. De facto, «Ao ouvinte atento, ele [o discurso] surgiu mais como uma colagem de frases dispersas, sem uma centelha acrescida de clarividência ou esperança. Deixando de parte dispensáveis clichés ou banalidades absolutas (como a de que "Portugal tem ainda um longo caminho a percorrer" e "esse caminho deve ser feito em conjunto"; ou a de que "não nos podemos deixar abater pelo desânimo nem cultivar o pessimismo. Devemos olhar o futuro com confiança renovada"), o discurso não é sequer um arrumar da casa.»
Não obstante a concordância de fundo, discordo do título, porquanto considero, ao contrário do editorialista, que a mensagem de Cavaco merece ficar na história, que mais não seja, como prova da colagem e da subserviência de Cavaco Silva perante o governo de direita de que ele foi o principal promotor e que tem beneficiado continuamente do seu indisfarçável apoio, a pontos de se poder considerar que ele, Cavaco, nas piores horas, foi mesmo o seu único amparo.
Não admira, por isso, que, desde há muito, a maioria dos portugueses tenha a noção de que Cavaco não tem a postura exigível a um Presidente da República. Em vez de Presidente de todos os portugueses, à semelhança dos seus antecessores que sempre cultivaram essa imagem, Cavaco comporta-se como chefe de facção. A mensagem de Ano Novo vem confirmar de modo iniludível, essa ideia.
A postura de Cavaco face ao governo de direita e a parcialidade com que vem exercendo as suas funções, ao arrepio do que estatui a Constituição, chega a atingir foros de verdadeiro escândalo. De facto, na ânsia de apoiar o "seu" governo, agora que se aproxima a data da realização das eleições legislativas, Cavaco chega a ir mais longe do que o primeiro-ministro no desenhar de um futuro risonho: onde Coelho se limita a ver um futuro sem nuvens, Cavaco já consegue vislumbrar um céu radioso.
E termino como comecei: «Uma mensagem para não ficar na história»? Não. Prefiro antes: "uma mensagem para ficar na história". Porquê? Porque é uma vergonha.
(Reeditada)(Imagem daqui)