sábado, 14 de março de 2015

Melhor ou pior?

(...)
Em 2011, Portugal conheceu uma grave crise financeira, ficando a um passo da bancarrota. Em 2015, Portugal conhece uma grave crise económica, social, política e moral, sem ter resolvido a sua crise financeira. A bonança dos juros é internacional e conjuntural, pode acabar amanhã. E tudo desaba como um castelo de cartas, porque não houve qualquer transformação estrutural da economia portuguesa. Pelo contrário, houve destruição dos factores “económicos” da sociedade com a devastação da classe média.

Os factores de crise estão indissoluvelmente ligados de 2011 a 2015, mas as crises só aparentemente são da mesma natureza e têm o mesmo “tempo”. A crise de 2011 era apocalíptica, ameaçava o país em poucos dias, marcava um ponto sem retorno que podíamos ter atingido no dia de amanhã. Era uma crise que não podia durar, tinha que ter uma solução imediata e essa urgência facilitava a sua resolução. A crise de 2011 era profunda e grave, mas muito conjuntural, a crise de 2015 é profunda e grave e estrutural. A dimensão da crise de 2011 era aguda nas finanças públicas, mas era menos grave na economia, e poucos efeitos tinha na sociedade “civil”. A verdade é que podia ser defrontada com muito menos custos, muito mais competência e eficácia, se não fosse o carácter antidemocrático e “indigno” (Juncker) da política datroika, ampliada pela tentação do revolucionarismo social dos nossos marxistas “liberais” que queriam fazer um Portugal não-“piegas”.

Ambas partilham elementos comuns, mas são muito diferentes principalmente no seu tempo e no seu impacto na sociedade. (...)

É porque esta crise é, em 2015, mais da democracia do que das finanças, que é mais grave e perturbadora (...)

Parte da crise de 2011 permanece, connosco, por resolver, mas parte da crise de 2015 é nova: resulta do modo como foi defrontada a crise de 2011. E como tudo podia ser feito de outra maneira, as suas consequências foram escolhidas, não estavam inscritas na natureza das coisas. Tiveram autores. Em 2011, Sócrates, em 2015, Passos e Portas. As opções da crise de 2015 foram escolhidas por dois factores: a ignorância e incompetência dos governantes que desconheciam o seu país, e pelas ideias erradas e simplistas que transportavam, de que o bom modelo para Portugal era Singapura ou a Coreia. Anote-se que também não sabem muito do que é Singapura e a Coreia.
(...)»

(José Pacheco Pereira; "Da crise de 2001 para a crise de 2015: estamos pior ou melhor?".Na íntegra: aqui)

6 comentários:

Anónimo disse...

Chicamigo

Uma vez mais o Pacheco Pereira pôs o dedo na ferida - e de que maneira... - dizendo o que se deve dizer sobre as duas crises bem distintas uma da outra.

Houve um largo período em que discordava dele e não o achava muito simpático e confesso publicamente até o achava um camaleão ou um troca-tintas.

Mas reconheci que estava errado, dei a mão à palmatória e hoje sou um fã dele. Por isso o aplaudo pois este texto é autêntico,verdadeiro,duro e frontal.

O meu muito obrigado aos dois: ao JPP e a ti Chicamigo por o teres publicado!

Abç picante

Anónimo disse...

Gostaria que este comentário fosse lido pelo Pacheco Pereira, pois eu, como sabes Chicamigo, também sou frontal, além de desbocado...

+ abç

Majo disse...

~
~ É evidente que estamos cada vez pior: endividados, paupérrimos, sem recursos - em vernáculo léxico luso - p e l i n t r a s. ~

~ ~ Bom fim de semana. ~ ~
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Graça Sampaio disse...

O Pacheco Pereira sabe o que diz. Para mim só tem «um defeito»: é do PSD... e amanhã sabe-se lá o que poderá dizer... Admiro-o por ser um estudioso, muito inteligente e bem falante. Quem o viu e quem o vê!!!

Majo disse...

~
~ ~ ~ Peço desculpa, Francisco.


~ Ó Henrique, não estavas nada enganado, pelo contrário.

~ PP é que tem mudado muito a sua postura, ultimamente.

~ Estou convencida que contratou um 'limpador de imagem'...

~ Nunca confiarei numa pessoa que, nos anos oitenta, proferiu:
-- Temos de acabar, de vez, com o socialismo em Portugal.
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Anónimo disse...

Zézéamiga

(Mesmo sem ter autorização do Chicamigo e penso que ele ma dará a posteriori, aqui te comunico que estou de pleno acordo contigo...

Mas lá que o gajo tem um par deles bem preto, ninguém duvide. Mesmo assim, volto atrás, após as tuas palavras que me são dirigidas: o "rapaz" é o que em linguagem policial se chama "um arrependido". Será?

Podemos continuar a troca de opiniões lá na nossa Travessa. E se alguém ou "alguens" quiser meter a sua colherada será muito bem vindo- tal como os cartões de crédito :-) :-) :-)

Qjs


Chicamigo

Obrigado

Abç