domingo, 30 de novembro de 2008

Citações # 26

..."É que se genuinamente acreditam que os professores aceitam ser avaliados por um sistema seriamente avaliador e diferenciador, devem desenganar-se. Quem tem ligação directa ao meio dos professores sabe que, na sua generalidade, os professores não aceitam perder a autonomia que se habituaram a ter dentro das escolas. E não se poderá dizer que essa autonomia foi sempre mal aproveitada. Muitos bons professores fizeram dela bom uso. Mas muitos e muitos professores que entraram para o ensino por ser essa a única saída profissional disponível, têm feito dessa autonomia o desprestígio da classe.
A reforma proposta nas suas diversas vertentes, tenta reorganizar a escola, nomeadamente através da sua hierarquização. Isso é absoluta e definitivamente rejeitado pela generalidade dos professores. Até mesmo pelos bons professores que nada tinham a perder com isso, mas que viveram durante anos e anos uma organização de escola em que eram todos colegas e ninguém pedia responsabilidades a ninguém. E se prestar contas incomoda algumas pessoas, pedi-las não incomoda menos. Assim se juntam todos na rejeição.
Se alguém tinha dúvidas das seriedade das críticas anteriormente apontadas ao jovem sistema de avaliação proposto, creio que não podem mantê-las quando após a sua eliminação pela tutela, os professores insistem na rejeição do sistema. Fica claro que não eram aquelas anomalias, aliás ridiculamente não corrigidas por quem tinha de operar o sistema, a verdadeira razão da luta."
Texto completo e autor: aqui .

7 comentários:

Anónimo disse...

Acho que agora definiu completamente o quadro - acertou na mouche -, explicou psicologicamente o animus dos professores (dos bons e dos maus) e a razão por que todos estão congregados na mesma posição.
Já não tenho pachorra e os professores fizeram mal em radicalizar tanto a sua luta. Podem não perder esta batalha, mas perderam uma guerra.
Daqui por uns bons tempos (meses ou anos), veremos como tudo será bem pior para eles neste tipo de autonomia que apreciam.
Mas estou certa que será bem melhor para o país.Mas claro que os pais e alunos também terão de ter melhor comportamento.
A ver vamos.

ARISTIDES DUARTE disse...

Caro amigo Clamote:
É verdade e não nego que duarante toda a minha de professor (antes deste Governo ter existido) nunca me considerei funcionário público. Digamos que os professores tinham uma margem de manobra diferente dos restantes funcionários. Tinham autonomia dentro da sala de aulas.
O professor podia usar diferentes métodos de ensino, podia usar diferentes estratégias no ensino/aprendizagem.
Era por isso mesmo que os professores eram considerados dentro da Administração Pública, com um estatuto especial. Este Governo veio destruir isso. Fala em hierarquias (duas categorias de professores- professor e professor titular). Mas, é necessário saber que muitos desses chamados titulares são iguais aos outros. Nem mais, nem menos. fazem a mesma coisa (ensinar). Não sabem mais, nem menos. É diferente de uma hierarquia militar. Além disso , nem todos querem ser generais. Eu contento-me em ser tenente -coronel, mas é chato ser avaliado por um sargento, não é?
Além disso, está , constantemente, a publicar legislação para tornar tudo igual (os alunos) e aos pais a dar poder e o professor deixa de ter qualquer manobra. É disto que muitos professores se queixam.
Houve professores que abusaram desse estatuto e faltaram muito, mas outros houve que cumpriram. Porquê castigá-los a todos?
Porquê chamar a todos "professorzecos" e classe que não trabalhava e nada fazia, como alguns defensores do Ministério continuam a fazer?
Quem começou com esta "guerra" foi o Ministério.
Se , como afirma num comentário, tem em casa quem tenha passado muitos anos pelas escolas (presumo que a sua esposa)acha normal que , quem agora está no ensino, tenha que pagar por todos os erros que foram cometidos no passado?
Para eu ganhar a minha vida tenho que fazer, todos os dias 140 Km. Estou a 70 Km de casa. O ano passado estava a 125 Km de casa e tinha que ficar lá toda a semana. Há 3 anos estava a 15 Km de casa.
Os concursos também são uma boa treta, e só quem está nisto é que sabe. Porque também não é verdade que os professores estão todos colocados por 3 anos e eu sou um exemplo vivo disso.

Francisco Clamote disse...

Meu Caro Aristides Duarte:
O meu amigo não é obrigado a ler tudo quanto já escrevi sobre este tema, mas se tivesse lido teria podido chegar a várias conclusões como estas que aqui, uma vez mais, repito.
1º Se há profissão que admiro é exactamente a de professor, não só porque a considero uma profissão muito exigente, pelas razões que alega e outras, mas também porque entendo que para se ser professor é preciso ter qualidades que não estão ao alcance de qualquer um, (eu incluído, que tenho a perfeita consciência de não ter perfil para a exercer). Já o disse várias vezes e repito.
2º Não estou, nem tenho que estar, de acordo com todas as medidas tomadas pelo Ministério, designadamente no que respeita à figura do professor titular, nem às condições para ter acesso a tal categoria (embora neste aspecto tenha de admitir que, não existindo classificação digna desse nome, o Ministério tivesse de recorrer a outros critérios que não a classificação).E, em concreto, também não me pronuncio sobre o modelo de avaliação do Ministério é bom ou mau.
O que eu já tenho dito, e não importo de voltar a repetir é que, se queremos um ensino de qualidade,(e de há muito que o não é, segundo todos os indicadores disponíveis e disponibilizados até pela OCDE que confirma que os investimentos no sector Educação têm um fraco retorno em termos de aproveitamento escolar dos alunos) isso passa, a meu ver, em primeira mão (embora não só) por uma avaliação de desempenho que não só premeie os bons (que já o seriam e são, de qualquer forma) mas que incentive também os menos bons a procurarem ser melhores, porque quer queiramos, quer não, há bons professores e professores menos bons, como em qualquer outra profissão. Os professores não são excepção.
Outro assunto que também já tenho abordado prende-se com a atitude dos sindicatos, que, embora acusem o ME de ser inflexível, revelam a meu ver, maior inflexibilidade e então hoje, isso é claríssimo. Como já também disse, algures num "post", a minha experiência pessoal como presidente de uma associação profissional (que também já fui) diz-me que os governantes são pessoas como todos nós e tendem a reagir como qualquer mortal. A intransigilidade de uma parte leva à rigidez da outra parte, como é evidente. Aliás, a experiência ensina-me que quando se querem obter resultados alguma flexibilidade é o melhor caminho. Ora chegados a esta fase, em que o ME (admito que sob pressão)já recuou nos aspectos mais controversos do modelo da avaliação e aceita negociar, é evidente que o comportamento dos sindicatos é perfeitamente inexplicável, a menos que se aceite que os seus objectivos já nada têm a ver, nem com a educação dos alunos, nem com a defesa dos interesses dos professores. Ora esta atitude, é óbvio que não vai levar a lado nenhum, pela razão simples de que se os sindicatos não mostrarem alguma flexibilidade, o ME (encostado como está à parede) já não tem para onde recuar.E nem o Governo que lhe tem dado cobertura. Assim sendo, como é? Cai o Governo? Suponho que isso não passa pela cabeça de ninguém com juízo, sobretudo nesta altura em que a crise económica (vinda ou não de fora) nos bate à porta com cada vez maior violência.
E por aqui me fica que o comentário já vai longo. Saudações amigas.

ARISTIDES DUARTE disse...

Não me interessa muito a qualidade de professor titular. Interessam-me mais outras coisas. O meu amigo sabe bem ( ou devia saber) que essa história de estar sempre a falar e sindicatos de professores tem uma intenção política. Sabe tão bem quanto eu (se estiver bem informado) que são os professores que estão a exigir aos sindicatos que tome uma série de posições e não os sindicatos que exigem aos professores.
Ou seja, os professores não estão reféns dos sindicatos, mas os professores é que estão a fazer dos sindicatos reféns e estes para não perderem representatividade estão a ir atrás das reivindicações dos professores. Ou seja, isto está tudo ao contrário, mas é assim que está.
O que o Governo pretende ao falar em sindicatos é virar a opinião pública contra os professores. Mas são os professores que, neste momento, pressionam os sindicatos.
Para não falar em professores, o Governo usa sempre a palavra sindicatos.

Francisco Clamote disse...

Nesse caso, meu caro, aquilo que digo em relação aso sindicatos, teria que reportá-lo aos professores, como é evidente. Em todo o caso, parece-me que, se não fosse a intervenção dos sindicatos e a agressividade que manifestam, não teríamos chegado ao ponto que se chegou.

ARISTIDES DUARTE disse...

Mas tem mesmo que reportar tudo aos professores, porque são eles que estão a exigir que os Sindicatos tomem estas posições (greves, manifestações, etc). Só quem está por dentro , sabe disso.
Aliás, quem esteve atento notou que os professores se manifestaram contra os sindicatos , criando grupos como a APEDE e outros.
Eu não insulto ninguém, a minha luta é contra esta política educativa com a qual discordo em absoluto. Basta o facto de ter de trabalhar tão longe de casa para estar contra. Fora o resto.

ARISTIDES DUARTE disse...

Pode ser que outros perdoem. Eu não perdoo terem-me chamado "professorzeco". Nunca,jamais, em tempo algum. Isto não tem perdão.