"Rui Machete não disse inverdades, não cometeu incorrecções factuais, não teve afirmações menos felizes. Rui Machete mentiu. Pôs aquela cara de enfatuado e aquele ar de quem pensa estar acima da ignorante plebe, e mentiu com quantos dentes tem na boca. Aldrabou os angolanos, aldrabou os portugueses, aldrabou toda a gente quando disse conhecer pormenores de assuntos em segredo de justiça. Mentiu descaradamente e sem hesitações quando afirmou ter pedido informações ao Ministério Público. Mentiu chamando mentirosa à procuradora-geral. Também podíamos pôr a hipótese de ser Joana Marques Vidal quem mentiu. Mas, convenhamos, entre a procuradora e um senhor que se esqueceu de referir que tinha sido accionista de uma organização a que pertencia, e até aos órgãos sociais, e que lhe pagava em notas ou em seguros de vida, talvez me incline a pensar que o mentiroso nesta história é o Dr. Machete.
(...)
Já sabemos que mentir despudoradamente não faz ninguém sair deste governo. Por exemplo, o co-primeiro-ministro Portas veio dizer no dia 3 de Outubro que já não havia mais medidas de austeridade. No domingo, através da TSF, ficámos a saber que se decidiu tirar dinheiro até aos viúvos e aos órfãos. Portas, que já não tem mais vergonha na cara para perder, disse que naquele dia ainda não sabia bem como seria o desenho da medida... - o outro co-primeiro-ministro, Passos Coelho, veio logo avisar para o choque de expectativas e soube-se, uns dias depois, que os funcionários públicos vão ter mais um corte de dez por cento nos ordenados; esta guerra entre os dois cônsules teria até piada se não fosse trágica.
Exemplos das mais delirantes mentiras não faltariam. Sugerir a Passos Coelho que talvez não fosse boa ideia manter um ministro que despreza pilares fundamentais da democracia também não teria qualquer efeito. Passos Coelho é o cavalheiro que disse que a Constituição não dá empregos, que não se importa de ouvir entidades estrangeiras a atacar as nossas instituições, que diz sem mexer o sobrolho que iremos perder soberania, que está tão confuso sobre os seus poderes e o seu papel que confunde o país com ele próprio quando diz que o fracasso dele será o de Portugal. Assim uma espécie Passos XIV, L' État c'est moi.
Pensando bem, a falta de vergonha, o desplante que Machete exibiu na Assembleia da República, a ausência de competência, o desprezo por valores fundamentais, não surpreende ninguém. É só mais um exemplo do irregular funcionamento das instituições. O Presidente da República está bem, obrigado."
(Pedro Marques Lopes; Podridão, tem V. Ex.ª razão; na íntegra: aqui)
1 comentário:
Não tinha lido, mas ouvi-o ontem, no Eixo do Mal, a dizer mais ou menos a mesma coisa
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