quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Ameaças contraproducentes

Que reina o descontentamento entre os militares é uma evidência, pois aí temos as manifestações e os pronunciamentos de vários político-militares (Loureiro dos Santos e Vasco Lourenço, p.e.) para o confirmar.
Que tenham razão nesse descontentamento já, para mim, é duvidoso, pondo a questão em termos objectivos, já que, do ponto de vista subjectivo dos militares, a resposta terá de ser afirmativa.
Explico-me: É claro que as Forças Armadas (FA) perderam a importância e a consideração pública que já tiveram e é compreensível que aos militares não agrade tal situação, que, no entanto, (sublinhe-se) não resulta de qualquer acto do poder político, mas simplesmente da mudança das circunstâncias. O 25 de Abril (que é um crédito que as FA têm sobre o país) já vai longe e é um dado objectivo que o papel reservado às F.A., nos dias de hoje e por força da evolução do país e da situação internacional, não é o que já foi noutros tempos. Estes factos explicam muita coisa, incluindo a pouca preocupação do poder político pelo estatuto dos militares, atitude que, muito provavelmente, não contrasta com a opinião da população portuguesa, em geral. Digo isto, porque não falta em Portugal quem se interrogue sobre o interesse em manter umas FA, com a natureza das actualmente existentes, quando, pelo menos aparentemente e aos olhos de qualquer leigo na matéria (como é o caso da grande maioria dos portugueses) a defesa da soberania nacional não depende da sua existência.
Neste contexto e sem pôr em causa a legitimidade de os militares fazerem ouvir a sua voz e de reivindicarem os seus direitos, parece-me que as ameaças (assumidas ou não e veladas ou menos veladas) por parte de alguns militares, podem vir a revelar-se como contraproducentes.
Volto a explicar-me: Se os portugueses em vez de verem nas suas F.A. uma fonte de segurança, as passarem a percepcionar como uma ameaça às suas instituições políticas (que, funcionando melhor ou pior, resultam da vontade popular) é evidente que mais se acentuará a desconsideração de que os militares actualmente se queixam.
(Reeditada)

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