Os partidos da oposição, com maior ou menor insistência, não cessam de reclamar a demissão imediata do ministro Machete, perante os sucessivos escândalos em que se envolveu, exigência que dificilmente não será subscrita por qualquer mortal com um mínimo de decência.
Aparentemente, entre esses mortais não se incluem, nem Machete, que não se sente no dever de se demitir, nem Passos Coelho, que não o demite, nem Cavaco, que não se dá sequer ao trabalho de dizer uma palavra sobre o assunto, lavando daí as mãos, como Pilatos, gesto que é habitual nele quando os assuntos são espinhosos ou estão em causa os "seus", como é o que ocorre no caso presente.
Fernanda Câncio, em mais um brilhante exercício de escrita, lembra aqui que "Há muito muito tempo, num país muito muito distante, um ministro ousou fazer, no Parlamento, um gesto muito muito pateta. O ultraje foi tal que pouco depois o ministro apresentava a demissão e o PM desculpas pelo ocorrido, enquanto o presidente da Assembleia da República, do partido do Governo, assegurava, cenho franzido: "Aquilo que se passou não se podia ter passado." Garante do funcionamento regular das instituições e farol moral da nação, o então PR pontificava: "Pouco acrescentaria em relação à indignação que foi manifestada na AR por parte de todos os grupos parlamentares e por parte do senhor presidente da AR, o que de alguma forma reflete a gravidade daquilo que aconteceu."
O contraste entre a ética que vigorava então e a falta de ética que impera agora em todos os órgãos de soberania (sem excepção, mas com obrigatória ressalva dos deputados da oposição) não podia ser mais flagrante.
Como cidadãos não está na nossa mão evitar a permanência 4ever de Machete como ministro dos Negócios Estrangeiros, mas nada nos impede de tirar as conclusões que se impõem.
E, para o efeito, faço novo apelo à escrita da Fernanda: "se os processos que o ministro mandou arquivar por entrevista forem mesmo arquivados, como fica a cara da PGR? E se avançarem para acusação, como fica a do Governo e a relação com Angola? Os cornos chegam para todos."
1 comentário:
A Fernanda a bater na mouche, como sempre...
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