No Conselho de Ministros extraordinário realizado ontem, pouco produtivo para o país, mas altamente rendoso para os grupos económicos, o Governo decidiu abrir mão, sem quaisquer contrapartidas, dos "direitos especiais" (golden shares) na PT - Portugal Telecom, EDP - Energias de Portugal e na Galp Energia.
Diz o ministro das Finanças, Vítor Gaspar, que o fim das golden shares "resulta de um compromisso que tinha que ser realizado" (admito que sim) e que não está prevista "nenhuma compensação directa". Aqui digo: alto lá! Não está prevista, mas devia estar. Se o Estado abdica de direitos que possui e que têm, indubitavelmente, um elevado valor económico, sem nenhuma compensação, os grandes accionistas, que vêem aumentado o seu poder dentro das empresas, vão ter o seu património acrescido na exacta medida do valor de que o Estado prescinde. Chama-se a isto enriquecimento sem causa ou, se preferirem, locupletamento à custa alheia. Que seja o próprio Governo a "entregar o ouro ao bandido", de mão nem sequer beijada, eis algo que não pode deixar de causar espanto.
É verdade que o ministro das Finanças afiança, a título de justificação para a perda que o Estado vai sofrer, que o Estado "vai beneficiar da valorização das empresas que vão ser privatizadas", mas, ou sou eu quem não sabe fazer contas, ou é o ministro das Finanças. Como não desmereço de quem me ensinou a fazer contas, sou levado a concluir que é o ministro quem está enganado. Mesmo que se admita que venha a ocorrer a alegada valorização das acções no momento das privatizações anunciadas, certo é que continua a haver transferência de valor para os accionistas outros que não o Estado, até porque este não passa dum accionista minoritário cujo poder, dentro das citadas empresas, deriva, não do número das acções que detém, mas sim dos direitos especiais a que agora decidiu renunciar. Ou será que é por via da eventual (e cada vez mais improvável) valorização das 500 acções que detém na GALP que o Estado vai ser compensado da perda que agora sofre?
Pergunto-me: era preciso mandar vir do estrangeiro esta "brilhante" cabeça para não saber fazer contas de diminuir e de somar? Um qualquer Frasquilho não era capaz de dar conta de tão fraco recado?
1 comentário:
Bem visto, assino por baixo. O Estado português não ganha nada com isso, mas há uma data de gente que vai encher-se à nossa custa, os "padrinhos" destas máfias todas,e os "afilhados" que só para disfarçar agora até rasgam as vestes e chamam "terroristas" às agências de rating.
Enviar um comentário