No debate com José Sócrates, durante a pré-campanha para as últimas legislativas, com desfecho em 5 de Junho, Passos Coelho não se cansou de repetir o número de desempregados: 700.000, insistia ele.
Julgava eu que, com a repetição e a insistência naquele malfadado número, o actual primeiro-ministro estava a censurar o Governo anterior, deixando implícita a ideia de que, com ele a governar, aquele número viria por aí abaixo. Estava bem enganado.
Com efeito, estando já a direita no poder, com Passos Coelho a liderar o Governo, veio agora o Banco de Portugal anunciar que prevê, para Portugal, dois anos (2011 e 2012) de recessão profunda, com o consumo privado a recuar 3,8% este ano e 2,8% em 2012 (números que, salienta-se aqui, ultrapassam as quebras verificadas em 1978 e 1983, anos em que ocorreram as últimas intervenções do FMI), com o investimento privado a diminuir 10% em cada ano e o consumo público a registar uma redução de 5%.
Graças, em boa medida, suponho eu, à política que o Governo do senhor Passos Coelho que, não contente com as restrições decorrentes do acordo com a UE, FMI e BCE, achou por bem ir mais além para "surpreender" os "mercados".
(É óbvio, porém, que estes, atenta a recente classificação da dívida pública portuguesa como "lixo", não ficaram mesmo nada "surpreendidos". Muito, pelo contrário. Quem ficou mesmo de cara à banda foram os trabalhadores e pensionistas que acabaram por ficar a saber que o senhor Passos Coelho decidiu, contra afirmação sua em contrário durante a campanha eleitoral, cortar-lhes 50% do subsídio de Natal e o mais que adiante se verá. Isto, porém, é outra história que fica para próxima oportunidade.)
Fechado o parêntesis, regressamos ao Boletim económico de verão do Banco de Portugal para verificar que a previsão referente aos números do desemprego (assunto que nos traz aqui) é simplesmente demolidora para a política do senhor Passos Coelho: nos dois anos considerados (2011 e 2012) prevê-se a perda de mais 100.000 postos de trabalho, número este que somado aos 700.000 que, pelas contas do então candidato Passos Coelho, vêm do anterior, perfaz o número impressionante de 800.000 desempregados. Este número leva-me a crer que, afinal, o candidato Passos Coelho não estava nada preocupado quando lançava à cara de Sócrates os 700.000 desempregados. Pelos vistos, ele é muito mais "ambicioso". A sua "ambição" é atingir os 800.000 que até é um número muito mais redondo. E o que ele gosta de números redondos! Por exemplo: 10 ministros, 25 secretários de Estado, 50% do subsídio de Natal e por aí afora...
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