segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Os voluntaristas e as carpideiras

As previsões da Comissão Europeia, quer relativamente à Zona Euro, quer mais especificamente em relação à economia portuguesa, são pouco animadoras.
Quanto à Zona Euro, a previsão é de uma recessão técnica este ano, com contracção do PIB entre o segundo e o quarto trimestre deste ano e de um crescimento quase nulo (0,1 por cento) no próximo ano;
Em relação a Portugal, a previsão aponta, por um lado, para variações negativas nos dois últimos trimestres do ano, entrando a economia portuguesa em recessão técnica e, por outro lado, para um crescimento anual de 0,5 por cento este ano e de 0,1 por cento no próximo, valores bem inferiores aos previstos pelo Governo português para a elaboração do Orçamento do próximo ano, valores que segundo a previsão governamental se fixariam em 0,8 por cento e 0,6 por cento, respectivamente.
Previsões são previsões e pouco valem como o demonstram as sucessivas revisões em baixa a que temos assistido nos últimos tempos, quer por parte da Comissão Europeia, quer por parte de outras entidades. Há, em todo o caso, que reconhecer que as previsões pessimistas se afiguram como mais realistas tendo em conta o histórico dos últimos tempos, pelo que é possível que as previsões da Comissão Europeia sejam mais credíveis que as do Governo que, com o seu voluntarismo, tenderá a pintar as perspectivas futuras com cores menos sombrias que as da Comissão. É o que o ministro da Economia, Manuel Pinho, se apressou fazer, ao desvalorizar as previsões de Bruxelas, afirmando que Portugal tem conseguido ultrapassar sempre as previsões da Comissão.
Ao voluntarismo do Governo responde o PSD, pela voz do seu líder parlamentar, para quem as previsões da Comissão Europeia “demonstram o irrealismo das previsões em que assenta o Orçamento do Estado” para 2009, pelo que o Governo será obrigado a inverter a sua política económica, designadamente no respeitante ao investimento em obras públicas. Só que, digo eu, esta revisão parece ser contraditória com a preocupação com o aumento do desemprego, inevitável, se se confirmarem as previsões da Comissão Europeia, e de “consequências dramáticas”na vida dos portugueses, como alerta o Bloco de Esquerda, pela voz da deputada Alda Macedo.
Por estas diferentes tomadas de posição já se vê que os portugueses não terão vida fácil no próximo ano e que a margem de sucesso para a política do Governo é estreita. Em todo o caso, parece-me preferível a determinação (que não o voluntarismo irrealista) do Governo do que o carpir das oposições. O mais que se pode dizer, nesta altura, é que, no momento próprio, que já não tarda, cá estaremos, os portugueses, para julgar uns e outros.

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