quinta-feira, 9 de abril de 2009

Saia um genérico ...

Não me parece que a questão dos medicamentos genéricos seja de resolução particularmente difícil, mesmo ponderando todos os interesses em presença.
Se se considerar: i) que é o princípio activo (e não a marca) o relevante para a obtenção do resultado benéfico pretendido, o que é evidente até para um leigo; ii) que a qualidade dos genéricos, garantida pelo Infarmed, pressupõe a presença do princípio activo no medicamento em questão; e iii) que até existe, como afirma a Apogen , um estudo que, embora numa área específica, foi realizado durante 24 anos e concluiu que a eficácia dos genéricos é igual à eficácia dos inovadores (conclusão que não é de admirar, tendo em conta o anteriormente pressuposto - presença do princípio activo de qualidade) temos de concluir que se impõe a modificação da legislação no sentido de a prescrição médica ter de ser feita com referência ao princípio activo e não à marca do medicamento, ressalvando-se todavia ao médico a possibilidade de prescrever um medicamento específico, sempre que exista, do ponto de vista do prescritor, justificação para tal, justificação que nesse caso terá de constar da receita médica.
Simultaneamente, também por via legislativa, deve ser imposta aos farmacêuticos uma dupla obrigação: i) a de manter à venda os vários medicamentos genéricos e de marca para cada área específica; e ii) a de informar o cliente sobre o preço mais barato existente no mercado.
Por esta via alcança-se o desejado aumento do consumo dos medicamentos genéricos e a concomitante baixa do preço dos medicamentos em geral, com reflexos benéficos no bolso dos pacientes e nos cofres do Estado, ficando ao mesmo tempo salvaguardada a liberdade de prescrição do médico e afastada a hipótese da concretização do tão falado oligopólio das farmácias.
Com ou sem desafio do BE, parece-me evidente que o Governo deve tomar estas medidas. E também que o faça, quanto mais depressa melhor.

3 comentários:

Catão de Asclepion disse...

Até há 3 ou 4 anos os "genéricos" VENDIDOS EM PORTUGAL apresentavam fiabilidade idêntica ao que se verifica ONDE HÁ REAL FISCALIZAÇÃO E CONTROLE. Desde então não! Comecei por observá-lo numa doente com um "genérico" de marca estrangeira e pus essa marca de lado. Depois confiei numa marca MUITO PUBLICITADA nacional, e arranjei problemas para minha própria esposa... Depois... tem sido quase diariamente em doentes meus!
Mas, FELIZMENTE, ainda há MARCAS DE GENÉRICOS em que continuo a confiar e que prescrevo... Mais que os tais 20%!
Como médico, NÃO POSSO ABDICAR de TER A AUTORIDADE PARA ESCOLHER ENTRE UM "GENÉRICO" DE UMA MARCA EM QUE CONFIO, "trancando" na minha receita a hipótese de o farmacêutico o trocar por um outro de qualquer das marcas que PROVARAM NA MINHA ESPOSA E NOS MEUS DOENTES SEREM INEFICAZES ou APRESENTARAM GRAVES EFEITOS SECUNDÁRIOS INDESEJÁVEIS!
Por mais que isso desagrade à ANF e a alguns farmacêuticos, que poderiam "impingir" outro "GENÉRICO" QUE LHES PROPORCIONASSE MUITO MAIS LUCRO!
A clínica, hoje, faz-se com o feedback da MEDICINA BASEADA NA EVIDÊNCIA! "RES, NON VERBA"!
Mais 5 esclarecimentos importantes:
1 - O médico pode SEMPRE prescrever OUTRO FÁRMACO QUE NÃO TENHA GENÉRICOS (mais moderno e mais caro!), que, de acordo com as "guide-lines" tenha idêntica eficácia. Espero que haja suficiente bom-senso para não termos de chegar a isso com a finalidade de impedir as trocas das nossas prescrições por qualquer "farinha rotulada de medicamento"...
2 - Quem exerce há uns anos, tem experiência das "habilidades" que JÁ se faziam nas FARMÁCIAS de alguns hospitais, CONCESSIONANDO O FORNECIMENTO DE ALGUNS MEDICAMENTOS (a DCI já é usada nos hospitais há mais de 30 anos...) A LABORATÓRIOS que lhes ofereciam mais vantagens...
Quando detectávamos que esses medicamentos TAMBÉM NÃO TINHAM QUALIDADE, resolvíamos o problema prescrevendo OUTRA SUBSTÂNCIA QUÍMICA com efeito idêntico, que não constasse do Formulário Oficial... E assim conseguíamos tratar bem os nossos pacientes.
3 - É impressionante A QUANTIDADE DE LABORATÓRIOS REGISTADOS COMO PRODUTORES DE "GENÉRICOS" EM PORTUGAL! Mais que em França! Afirmo-o porque tenho o "VIDAL" online, no meu computador. Isto deve ter qualquer significado, não lhes parece?
4 - NO MELHOR PANO CAI A NÓDOA! Quando alguém detectar atentados à boa ética profissional médica, quer em termos de prescrições, QUER INTITULANDO-SE OU SENDO APRESENTADO COMO ESPECIALISTA NUMA DETERMINADA ESPECIALIDADE SEM O SER, POR FAVOR, introduza no Google: www.ordemdosmedicos.pt/?lop=listamedicos
Escreva o nome, tão completo quanto possível, verifique se é ESPECIALISTA, ou apenas "médico" e... POR FAVOR, ligue para um dos telefones e PARTICIPE A INCORRECÇÃO ou a FRAUDE!
5 - Esta chamada de atenção resulta de informações regulares que me são veiculadas por doentes, de que isso acontece em "algumas" clínicas, DEVIDAMENTE LICENCIADAS E SUPOSTAMENTE VIGIADAS pela ENTIDADE REGULADORA DA SAÚDE... e que, pelo menos uma delas, (caso que participei á O.M.), ATÉ TEM CONVENÇÕES com ...
Muito obrigado.
Catão de Asclépion
(pseudónimo)

Francisco Clamote disse...

Fico-lhe grato pelas suas informações que, pela qualidade e e objectividade me parece merecerem uma difusão bem mais ampla do que a que este blogue pode oferecer. Obrigado, pois. Cumprimentos.

Anónimo disse...

Estou perplexo.
Ainda bem que tive o privilégio de ser alertado pelo Dr. Catão.
Não fazia a mínima ideia da guerra existente e não haver um árbitro que nos defenda.
Falta uma ASAE por ali que comece a fechar portas.
Obrigado.