"Talvez por razões ideológicas ("o programa da ‘troika' é o nosso programa e queremos ir ainda mais longe"), talvez por causa de um contexto internacional que lhe escapa, talvez pela situação de "bom aluno" em que se colocou prescindindo de capacidade negocial face a uma ‘troika' que já não acredita nas suas próprias soluções, talvez porque os protagonistas são menores e nunca se poderia esperar uma visão de estadista da dupla de "amigos para todas as ocasiões" composta por Passos Coelho e Relvas, talvez porque se quebrou a confiança interna e a coligação está desfeita, ou talvez por uma mistura de todas estas coisas, o Governo não tem um caminho de futuro a oferecer aos portugueses, limita-se a repetir soluções que são causas dos nossos problemas e o OE para 2013 é a confirmação disso mesmo.
Os próximos meses serão terríveis. O Governo continuará em dissolução, com remodelação ou sem ela, o divórcio em relação aos cidadãos aumentará, existirá um risco real de que o poder caia na rua (por isso este OE, ao mesmo tempo que corta na saúde e na educação, aumenta a despesa nas forças de segurança e nas forças armadas). Quando, em meados de 2013, se verificar que a execução orçamental é um fiasco, a vida útil deste Governo terá terminado definitivamente. Nessa altura terá de ser encontrada uma solução no quadro do sistema político e ela só poderá vir do Presidente. Quais as alternativas de Cavaco Silva?
(...)
Resta, portanto, a dissolução da AR e a convocação de eleições antecipadas - o que deve ser feito no início do Verão, para permitir ao novo Governo a preparação do OE para 2014. As eleições serão a única via para restaurar o vínculo entre os governantes o povo. Desta vez, ninguém tolerará falsas promessas. Desta vez, os principais partidos terão de comprometer-se antecipadamente a encontrar uma solução de governabilidade. Caberá ao Presidente esse papel de pedagogia política.
(João Cardoso Rosas; "O que aí vem"; na íntegra: aqui)
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