Coube ao deputado Pedro Silva Pereira defender a posição do PS durante a discussão na Assembleia da República da "moção de censura" apresentada pela bancada parlamentar do PCP, tendo o seu discurso (reproduzido no vídeo supra) sido "aplaudido com um entusiasmo nunca visto na actual bancada socialista", pelo menos, a crer no que escreve Fernando Madrinha na última edição do "Expresso", entusiasmo para o qual Madrinha não encontra outra explicação que não seja a "nostalgia socratista".
Não viria daí grande mal ao mundo, acho eu, se esse fosse o caso, mas o que é estranho é que não passe pela cabeça de Fernando Madrinha que a explicação possa muito simplesmente residir no facto de Silva Pereira ter proferido um discurso muito bem estruturado e melhor conseguido. E tanto mais estranha é a posição de Madrinha quando é o próprio a reconhecer, no mesmo passo, que o orador tem "talento oratório e segurança argumentativa" quanto baste.
Discurso bem estruturado e melhor conseguido, insisto eu, porque Silva Pereira, que tinha pela frente a tarefa nada fácil de justificar a abstenção do PS em relação à moção de censura, alcançou claramente esse objectivo ao demonstrar que a "moção de censura" não passava de uma manobra pensada pelo PCP com outros objectivos que não o de derrubar o governo, objectivo este inatingível, através da moção de censura, com a actual composição da Assembleia da República. Note-se que, neste particular, o discurso de Silva Pereira coincide, no essencial, com a opinião maioritária dos comentadores políticos da nossa praça que, logo após o anúncio da moção, consideraram que ela não tinha outra finalidade que não fosse criar dificuldades ao PS, ou seja, "entalar o PS" (expressão frequentemente usada), dificuldades que Silva Pereira, no seu discurso, ultrapassou ao chamar à colação as inegáveis responsabilidades do PCP no acesso da direita ao poder, desatando assim o nó górdio armadilhado pelo partido alegadamente censurante que acabou de sair do debate na posição de "censurado".
Desatado o nó, Silva Pereira, aproveitou então a corda livre para zurzir no governo, pondo a claro que a austeridade, nos aspectos mais gravosos para a vida dos portugueses, é o resultado de opções do governo PSD/CDS que nada têm a ver com o memorando acordado com a troika, na sua versão inicial, abrindo caminho, por essa forma, para distanciar o PS da política governamental.
Tenho de admitir, porque me parece evidente, que ao entregar a Silva Pereira a tarefa de apresentar a posição do PS na discussão da moção de censura e ao aceitar os seus termos, António José Seguro quis certamente significar que acabou o tempo do consenso e do discurso mole e que, a partir de agora, o PS vai fazer oposição a sério.
Que assim seja, porque já não era sem tempo.
Desatado o nó, Silva Pereira, aproveitou então a corda livre para zurzir no governo, pondo a claro que a austeridade, nos aspectos mais gravosos para a vida dos portugueses, é o resultado de opções do governo PSD/CDS que nada têm a ver com o memorando acordado com a troika, na sua versão inicial, abrindo caminho, por essa forma, para distanciar o PS da política governamental.
Tenho de admitir, porque me parece evidente, que ao entregar a Silva Pereira a tarefa de apresentar a posição do PS na discussão da moção de censura e ao aceitar os seus termos, António José Seguro quis certamente significar que acabou o tempo do consenso e do discurso mole e que, a partir de agora, o PS vai fazer oposição a sério.
Que assim seja, porque já não era sem tempo.
1 comentário:
Este tipo de discurso, frontal, claro e sem medo do passado deveria ter sido adoptado pelo PS logo após as eleições. Se assim tivesse sido talvez estes bandalhos que nos governam não tivessem tido tanta desfaçatez no ataque ao povo português.
Uma posição firme do PS também teria tido um efeito dissuasor na comunicação social, evitando a publicação de atoardas relativamente ao governo anterior.
Mas a cobardia e a incompetência do Seguro, aliada ao seu ressabiamento contra o Sócrates deu no que deu.
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