domingo, 1 de julho de 2012

"Mansos", talvez, mas não tolos

O "Público", que na sua edição de hoje dedica alguma atenção aos protestos inorgânicos, não enquadrados pelos partidos, que, embora tímidos, já vão surgindo um pouco por todo o país, recomenda ao governo, em editorial: "Num momento em que nem o Presidente da República parece ser sinónimo  de autoridade ou crédito político, é bom que o poder acorde para a sua fragilidade. E faça por merecer confiança, mas sem truques".
A recomendação faz todo o sentido, mas há aqui um problema e ainda por cima irresolúvel.
É que o governo actual só chegou ao poder usando descaradamente da mentira e tem perfeita noção da sua incompetência e de que só através de truques se mantém no poder. E todos os meios lhe servem, desde a invenção de "desvios colossais" atribuídos aos Governos anteriores até à sistemática fuga em assumir a responsabilidade pelos seus próprios falhanços e por tudo o que o corre mal, que é quase tudo, para não dizer tudo. 
Mesmo agora acabamos de assistir a mais um truque:  numa altura em que já se tornou evidente para toda a gente que este governo não vai conseguir atingir a meta do défice prevista no OE,  Passos/Coelho, que tem defendido com unhas e dentes o cumprimento estrito do acordado com a troika, contra a opinião de toda a oposição que, além do mais, tem pedido insistentemente a renegociação do acordo e, designadamente, o alargamento do prazo, acabou de se lembrar, segundo se escreve na edição do "Expresso" de ontem, que ele, quando ainda na oposição, tentou que o programa de assistência financeira tivesse a duração de quatro anos e não de três, como ficou acordado, porque foi o que Sócrates pediu. 
Está mesmo a ver-se que, se o governo passista não consegue alcançar os objectivos do memorando que, recorda-se, já sofreu, entretanto, a pedido deste governo, diversas alterações, deixando, muito estranhamente, intocado o prazo de duração, o culpado só podia mesmo ser o Sócrates. Aliás, quando não é o Sócrates o culpado, as culpas pelos sucessivos falhanços do governo (a economia a afundar-se, o desemprego a aumentar exponencialmente, as contas públicas a derrapar para além do imaginável e do previsto) são imputadas ou à crise europeia, ou às condicionantes externas, ou ao diabo a quatro. "Eles" é que nunca têm culpa.
Como confiar nesta gente que é incapaz de assumir as suas próprias responsabilidades ?
Passos/Coelho, compreensivelmente, não se cansa de elogiar e de apelar à alegada "mansidão" dos portugueses. Espero que o editorialista do "Público" ao falar na confiança, que este governo, de todo, não merece, não queira que também façamos de tolos. 

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