segunda-feira, 16 de julho de 2012

Dinheiro "bem" espatifado


Depois de anos e anos em investigações, com dois magistrados (?) a tempo inteiro, com cartas rogatórias dum lado para o outro e com a Judiciária a passar a pente fino contas e mais contas, o caso "Freeport" vai terminar com a absolvição, já pedida pelo Ministério Público, dos dois únicos réus acusados no processo pelo crime de tentativa de extorsão. Perante uma acusação pífia, a cargo dos dois ditos magistrados(?), não teria sido difícil adivinhar, logo à partida, qual seria o desfecho do caso.
Não se diga, porém, que o caso "Freeport" não foi um sucesso. O dinheiro espatifado foi muito "bem" empregue. Serviu para, ao longo de anos, enxovalhar um primeiro-ministro em funções, a família, um procurador que não era havido nem achado no processo e vários membros do Executivo de José Sócrates, às mão de jornalistas sem escrúpulos, de alguns magistrados nas vestes de sindicalistas, de vários políticos da direita a começar pelo autor da denúncia anónima e duns não sei quantos "operadores judiciais", incluindo os tais magistrados(?) que, não tendo tido tempo, ao longo de anos, para interrogar José Sócrates, acharam por bem, numa iniciativa inédita e insólita, deixar por escrito no despacho de encerramento do processo, umas quantas perguntas dirigidas ao então primeiro-ministro, com o propósito de prolongar o enxovalho. Eu, pelo menos não consigo descortinar outra utilidade. E, em boa verdade, até fizeram doutrina, seguida durante a fase do julgamento. Isto, se bem compreendo a crítica da advogada da defesa, que estranha que, "90 por cento do tempo gasto em julgamento tenha incidido sobre factos que nada tinham a ver com o objecto da acusação".
Pois não tinham, na verdade, mas havia que levar o enxovalho até onde houvesse pano para mangas.
Continuo, porém, a acreditar que o processo não foi inútil. Pelo contrário, contribuiu, e muito, para descredibilizar o anterior primeiro-ministro, ajudou ao derrube do seu Governo e, sobretudo, teve a vantagem de levar ao poder a "gente honrada" (como o ministro Relvas) que agora nos (des)governa e que tanto êxito tem tido no destroçar da economia, no aumento do desemprego e da pobreza e na destruição do Estado Social, designadamente, nas áreas da Educação e da Saúde. Não é exagero, julgo eu, pois não há um único sector da vida nacional do qual se possa dizer que saiu beneficiado com a troca. Excepções? Só talvez a troika e, seguramente, os catrogas.
(ilustração e notícia daqui)

1 comentário:

folha seca disse...

Caro francisco clamote
Uma análise sintética mas muito lúcida.Concordo em absoluto.
abraço
rodrigo