sábado, 13 de julho de 2013

O beco


"Completamente absurda. A solução que o Presidente da República apresentou na quarta-feira ao país consegue ser muitíssimo pior do que aquilo que estava em cima da mesa: ou a continuação do Governo em funções (...) ou eleições antecipadas.

Pois com o inesperado gato que tirou da cartola, Cavaco Silva parece ter querido várias coisas. A primeira foi acertar contas antigas com Paulo Portas e com a afronta que este lhe fez, ao demitir-se quando a nova ministra das Finanças ia a caminho de Belém para tomar posse. A segunda foi fazer o mesmo com Pedro Passos Coelho, de quem não gosta e ao qual critica a forma como tem lidado com os reformados e pensionistas. A terceira foi, mais uma vez, dar a entender que está acima dos políticos e que não se mistura com tais pessoas. E a quarta foi 'entalar' as lideranças do PSD, CDS e PS, com o compromisso de salvação nacional, num quadro político que está longe de estar clarificado.

Acontece que, com a decisão que tomou, Cavaco lançou um boomerang, que está a dar a volta e vai acabar por o atingir violentamente. Na verdade, o que o Presidente fez foi acabar com a remodelação em curso e anunciar que vai manter em funções um governo de gestão, obviamente fragilizado e que não terá qualquer capacidade para alcançar aquilo que ele defendia, a saber: a estabilidade política e financeira, a reforma do Estado, o corte de €4,7 mil milhões da despesa pública e a luz verde da troika na 8ª e 9ª avaliações.


Mais: ao pedir um acordo de médio prazo entre PSD, CDS e PS, está a colocar o PS em maus lençóis, porque António José Seguro, que tem defendido eleições antecipadas e que recusou colaborar no corte de 4,7 mil milhões na despesa pública, terá de enfrentar uma revolta interna se voltar com a palavra atrás e pode mesmo ver a sua liderança colocada em causa.

Aliás, ao afirmar que "se esse compromisso não for alcançado, os portugueses irão tirar as suas ilações quanto aos agentes políticos que os governam ou que aspiram a ser Governo", o que Cavaco propõe é a decapitação das atuais lideranças do PSD, CDS e PS e a sua substituição por um primeiro-minístro da sua confiança.
O pequeno problema é que os delírios presidenciais, além de lançarem o país num pântano político e numa crise sem fim à vista, que virá acompanhada pela turbulência dos mercados, não são exequíveis. Ou alguém no seu perfeito juízo acredita, como disse Cavaco, que esse acordo, que deve incidir sobre "a governabilidade do país, a sustentabilidade da dívida pública, o controlo das contas externas, a melhoria da competitividade e a criação de emprego", "não se reveste de grande complexidade técnica" e "poderá ser alcançado com alguma celeridade"? E como se chega ao que Presidente quer, sem o apoio dos partidos, que ele descredibiliza?

Há quem acredite que, com isto, conseguiremos renegociar o memorando de entendimento. Mas isso já o teríamos de fazer com este ou outro Governo, porque o memorando é incumprível. E fazê-lo tendo por pano de fundo um Governo de gestão e uma campanha eleitoral de oito meses será sempre mais difícil. Foi nessas circunstâncias que Cavaco colocou o país."
(Nicolau Santos; "O beco em que Cavaco nos meteu". Texto publicado hoje no Caderno de Economia do "Expresso")

1 comentário:

José María Souza Costa disse...

CONVITE
Passei por aqui lendo, e, em visita ao seu blog.
Eu também tenho um, só que muito simples.
Estou lhe convidando a visitar-me, e, se possível seguirmos juntos por eles, e, com eles. Sempre gostei de escrever, expor as minhas idéias e compartilhar com as pessoas, independente da classe Social, do Credo Religioso, da Opção Sexual, ou, da Etnia.
Para mim, o que vai interessar é o nosso intercâmbio de idéias, e, de pensamentos.
Estou lá, no meu Espaço Simplório, esperando por você.
E, eu, já estou Seguindo o seu blog.
Força, Paz, Amizade e Alegria
Para você, um abraço do Brasil.
www.josemariacosta.com