domingo, 14 de julho de 2013

Para discutir o quê e para acordar o quê?

Para Cavaco se ter lembrado de vir agora exigir  aos partidos que assinaram o memorando com a "troika", "um compromisso de salvação nacional", alguma coisa deve ter, entretanto, mudado, a menos que a explicação para a nova postura de Cavaco resida naquilo a que o Nuno Saraiva designa por "Magistratura de vingança". 
Que Cavaco é "vingativo e egocêntrico"  é um facto reconhecido por muita gente, mas não me parece que a mudança de atitude face ao governo PSD/CDS possa ser ser explicada por forma tão simples fazendo apelo apenas aos seus humores e rancores. Não é que os estados de alma de Cavaco não possam explicar algumas das suas voltas e reviravoltas, como tudo indica que foi o que se passou aquando da série de acontecimentos que levaram à queda do último Governo de José Sócrates,  queda que ele promoveu e patrocinou. 
Seja assim ou seja assado, tudo indica que Cavaco se deu conta finalmente de que o "barco" mete água por todos os lados, embora tenha chegado a tal conclusão muito tarde e a más horas para alguém que se vangloria de ser um economista com enorme experiência (pergaminhos que, embora falsos no que respeita à enorme experiência, até lhe serviram para se valorizar como candidato à Presidência  da República) e provavelmente  apenas após o surgimento dos alertas deixados pelo ex-ministro Gaspar na sua carta de demissão. Isto passa-se quando o falhanço do governo já era denunciado por pessoas de todos os quadrantes, desde dirigentes dos partidos da oposição e militantes dos partidos do governo até dirigentes sindicais e patronais e comentadores de todas as tendências salvo um ou outro como os fanáticos José Gomes  Ferreira e Camilo Lourenço. Tal era, aliás, de há muito,  perfeitamente visível através dos indicadores oficialmente postos à disposição até do cidadão comum. A persistência de Cavaco em negar a evidência, mantendo, ao longo dos dois últimos anos, a postura de forte esteio do governo não abona nada a favor da sua agudeza de julgamento, para não ir mais longe. Mas enfim, como diz o outro, mais vale tarde do que nunca.
Acontece, porém, que a leitura que, presumivelmente, Cavaco agora faz da situação está muito longe de coincidir com a opinião do governo Passos/Portas.
Para os dirigentes dos partidos que formam o governo tudo vai bem e acabam de o reafirmar durante o debate da Nação, debate onde Passos e Portas até se congratularam com a iniciativa do partido "Os Verdes" que se lembrou de apresentar uma moção de censura, porque tal iniciativa lhes vai proporcionar a oportunidade de demonstrar que o governo continua a gozar do apoio firme da maioria parlamentar, estando em condições de prosseguir o seu caminho, agora, pretensamente ainda mais forte  e coeso, depois da promoção de Portas a vice-primeiro-ministro, apesar de tal promoção estar ainda no congelador de Cavaco Silva.
Sabe-se, por outro lado, que não é essa a visão do Partido Socialista que não só apresentou, há tempos, uma moção de censura, como não se tem cansado de exigir, nos últimos tempos, a realização, quanto antes, de eleições antecipadas.
Perante este cenário, que não estou a inventar, e não tendo o governo, nem os partidos que o sustentam reconhecido publicamente até agora que a política por eles prosseguida falhou redondamente todos os objectivos e conduziu o país a uma situação de desastre, faz algum sentido que o PS esteja disponível para se sentar à volta da mesma mesa com os partidos do governo?
Para discutir o quê e para acordar o quê?

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