Não falta quem garanta, nos media, com frequência, sem qualquer convicção, mas apenas e só com o propósito de enganar pategos, que com o rompimento das negociações do "compromisso de salvação nacional" proposto por Cavaco Silva, os partidos envolvidos nas negociações sairão sempre a perder.
Não me parece que seja assim, pois independentemente de se saber a quem cabe a responsabilidade ultima pelo desenlace (feliz, a meu ver) a credibilidade de qualquer dos intervenientes não foi minimamente beliscada, pois que se sabia, à partida, que o compromisso era impossível, a menos que os partidos do governo, por um lado e o PS, por outro, fizessem tábua rasa do essencial das posições que têm vindo a defender. Se tal tivesse acontecido, aí sim, haveria razão para ser legítimo desconfiar do partido que mais longe tivesse ido nas cedências.
Não tendo sido o caso, quem saiu a perder em toda a linha foi apenas e só Cavaco Silva que, frustrada a sua tentativa de sacudir a água do capote, vai ter que optar por uma das duas soluções que tinha em cima da mesa e que rejeitou: ou convoca eleições antecipadas, hipótese que os comentadores dão como improvável, embora seja a única que, do meu ponto de vista, permitiria uma clarificação da situação política e uma mudança de rumo (inevitável, mais cedo ou mais tarde), ou aceita a manutenção em funções deste governo, remodelado ou não, mas de todo o modo desacreditado e ao qual nem o próprio Cavaco Silva já atribui capacidade, nem competência para levar a nau a bom porto.
Qualquer que venha a ser a opção, Cavaco Silva vai ter que fazer marcha atrás e engolir o que disse, o que não pode deixar de afectar a sua reputação e de diminuir a sua influência enquanto órgão de soberania.
Uma última nota:
Não falo sequer sobre se, com o rompimento das negociações, o país saiu a ganhar ou a perder, porque o interesse do país, tal como eu objectivamente o entendo, nem foi tido nem achado na farsa montada por Cavaco Silva, o que se tornará ainda mais evidente se o PR mantiver em funções um governo em que, pelo menos alegadamente, já não confia.
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