Não vale a pena disfarçar o que é mais que evidente: a demissão de Gaspar representa, nem mais nem menos, do que o completo reconhecimento do seu próprio falhanço no cumprimento das metas acordadas com a troika e, bem entendido, o falhanço da política de austeridade prosseguida pelo governo, na medida em que era sob a sua batuta que se regia a orquestra desafinada, formalmente liderada pelo "impreparado" Passos Coelho.
Tendo em conta que o seu pedido de demissão já não é recente, tal significa que Gaspar há muito tinha consciência desse falhanço. Estranhamente, só Cavaco Silva, entretanto transformado em simples marioneta manipulada por Passos, (como se se viu recentemente com o caso da promulgação ultra-rápida da lei que protelou o pagamento do subsídio de férias dos funcionários públicos, dos reformados e pensionistas, para o mês de Novembro) é que ainda não se apercebeu disso.
Que Cavaco vai continuar a esconder a cabeça na areia para não ver o que se passa, tenho poucas dúvidas. Melhor dizendo, nenhumas.Será que Portas vai continuar a fazer o mesmo?
É que se a saída de Gaspar do governo acaba por ser reveladora da decomposição a que o actual executivo governo chegou, a escolha da pessoa encarregada de o substituir (Maria Luís Albuquerque) torna ainda mais claros os sinais da decomposição.
Como é evidente, a "ilustre" secretária de Estado do Tesouro, agora, estranhamente, promovida a ministra das Finanças, deveria, se neste governo existisse um réstia de decência, ter seguido o mesmo caminho que o trilhado por dois dos seus colegas de governo, responsáveis, tal como ela, pela contratação de swaps, caminho que só poderia ser o do olho da rua. A qualificação eufemística ("exóticos", por contraponto a "tóxicos") atribuída aos swaps em que ela interveio em nada modifica o julgamento, porque, substancialmente, não se consegue enxergar qualquer diferença.
Mas, o que torna esta nomeação ainda mais inverosímil, para não dizer inconcebível, é o facto de a "excelente senhora" ter acabado de ser desmentida pelo ex-ministro Gaspar em relação a firmações feitas por ela no Parlamento ao negar que o Governo anterior tivesse prestado a informação de que dispunha sobre swaps. Passos Coelho não escolheu seguramente a pessoa indicada para tomar conta do Ministério das Finanças, mas, ao que tudo indica, encontrou uma sucessora à altura de Miguel Relvas no que respeita ao tratamento da verdade a que o Parlamento tem direito.
Pelo que fica dito, a nomeação da nova ministra das Finanças tem todos os ingredientes de um verdadeiro escândalo, para o qual só vejo uma explicação: Coelho não encontrou, por certo, nenhuma personalidade com perfil e credibilidade que aceitasse ser ministro/a das Finanças de um governo em decomposição. Por isso, Maria Luís Albuquerque tem de ser vista como uma escolha em desespero de causa.
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