sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

O pós-acordo

Ainda a tinta das assinaturas apostas no acordo de concertação social não secou e já António Saraiva, presidente da CIP, veio declarar que as medidas não são suficientes, pois "não tapam o vazio que a retirada da meia hora deixou". Tendo em conta a leitura que toda a comunicação social fez do acordo, salientando unanimemente que o gravoso das medidas contempladas recai por inteiro sobre os trabalhadores (e aqui temos uma boa amostragem da imprensa) estas declarações do patrão dos patrões podem ter uma dupla leitura: ou são a manifestação de alguém que "de contente rilha o dente"; ou, hipótese mais provável, nem sequer o patronato acredita no sucesso das medidas acordadas e está já, por esta forma, a arranjar desculpas para o facto de a economia portuguesa, não obstante o acordo, não sair da cepa torta.
Temo bem que este venha a ser o cenário, porque me parece provável que o aumento das horas de trabalho resultante do acordo possa vira a ser mais que compensado, negativamente, pelo aumento (inevitável) da conflitualidade laboral.
Isto quanto aos efeitos prováveis no plano da economia, porque o acordo vai ter também sequelas no plano sindical.
Muito provavelmente, admito eu, João Proença, com a assinatura aposta no acordo deve ter selado o final da sua carreira (aliás, demasiado longa) como dirigente sindical pois não estou a ver que os sindicatos filiados continuem a aceitar a sua liderança, depois de toda a inabilidade (para não dizer outra coisa) manifestada, quer durante, quer após a negociação do acordo. 
Já quanto ao futuro da UGT sou bem mais optimista do que Torres Couto, um dos seus fundadores, para quem a assinatura do acordo pode ser vista como a sua certidão de óbito. Sem dúvida que a UGT, com este acto, perdeu boa parte da sua credibilidade junto dos trabalhadores, mas tem na excessiva subordinação da CGTP às orientações do PCP, uma espécie de seguro de vida. Continuará a haver sindicatos que não aceitam a colagem da CGTP à estratégia da PCP que se norteia, tantas vezes, pelo lema do quanto pior melhor e cujos resultados estão hoje bem à vista. E, a este respeito, suponho que não é preciso acrescentar mais nada à carta: Os trabalhadores no activo e os pensionistas, designadamente, sabem do que falo.

1 comentário:

Anónimo disse...

É urgente um sinal de cidadania activa
A partir da criação do euro em 1999 os 17 países da EU que aderiram à moeda única passaram a ter uma taxa de câmbio fixa e deixaram de controlar as suas relações de troca através do controlo cambial e da intervenção directa dos seus bancos centrais. A partir de então em conjunto a balança de transacções da Grécia, Itália Portugal e Espanha –GIPS- passou sempre a ser negativa , isto é as empresas e os Estados foram-se progressivamente endividando. Ao mesmo tempo, , a Alemanha apresentava um crescente saldo positivo nas suas trocas com o exterior, atingindo actualmente um superavite de 182 mil milhões de euros, enquanto os países referidos acumulavam um saldo negativo de 183 mil milhões*; quer dizer, a Alemanha prosperou com a moeda única e os GIPS agravaram a sua situação.
Com a crise financeira de 2009, a dívida dos GIPS cresceu muito, o que justificou que os mercados de capitais iniciassem um ataque especulativo sobre a dívida pública destes países, começando selectivamente pelos mais . Só uma intervenção rápida de um banco central poderia deter este processo.
O BCE pode emprestar dinheiro aos bancos mas está proibido de emprestar directamente aos países, o que originou benefícios para a banca tornando a manutenção da dívida insustentável em alguns países.
Ao manter o BCE incapaz de garantir os títulos de dívida dos países europeus, a Alemanha com cumplicidade da França, conseguiu por em perigo o euro e levou à supressão da democracia na Grécia "despediu" com um simples telefonema o governo de Itália, levou à queda o governo de Portugal e facilitou a vitória da direita em Espanha. Depois de espalhar uma política de medo e incerteza permanente e substituir os governos destes países, reduzem-se salários e regalias e lançam-se os países numa crise de recessão .

Sem por em causa a necessidade de pagar dividas e pôr cobro ao endividamento sistemático, a verdade é que uma saída para a crise não pode ser conseguida pela destruição da economia, optando por uma austeridade cega que inclusive reduz o produto interno e conduz à impossibilidade prática de permitir o pagamento da dívida. A solução passará por travar o ataque especulativo e a subida dos juros da dívida e equilíbrio orçamental das contas públicas num prazo realista.
Ao boicotar os ajustes necessários do BCE fazendo prevalecer os interesses dos seus bancos, sem disparar um tiro, a Alemanha está a conseguir alimentar os seus desígnios imperiais melhor do que conseguiu na primeira e segunda guerra. Assim, em menos de 100 anos a Europa tem de enfrentar a terceira calamidade provocada pela Alemanha : o avanço sobre a soberania dos estados e a sua subjugação económica configura o que entendemos por um estado de guerra.

De facto estamos a enfrentar uma situação de guerra, em que as armas até podem ser silenciosas, mas não deixam de ser devastadoras.

Perante este cenário os dirigentes políticos europeus como Passos Coelho vieram a revelar-se, não como defensores dos seus Estados, mas apenas como submissos representantes de Berlim, incapazes de negociarem condições que permitissem que a economia dos respectivos países pudesse manter a vitalidade suficiente para que efectivamente pudessem honrar os seus compromissos, mas sem destruir empresas pessoas e bens.

Neste contexto de emergência os cidadãos não podem de imediato esperar que os seus interesses sejam capazmente defendidos, pelo que só lhes resta a possibilidade de enviar directamente uma mensagem suficientemente forte para ser ouvida e atendida pela alta finança alemã: fazer baixar significativamente os lucros das suas empresas.

Sabendo-se que 60% das exportações da Alemanha se destinam à Europa é urgente que os cidadãos europeus exerçam o seu direito à resistência contra a ofensiva em curso, começando desde já por enviar uma mensagem muito clara para Berlim: deixar de comprar produtos de origem alemã.

Se concordar com esta acção de defesa do país, é favor divulgar a mensagem.

* dados Eurostat