quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

"Película de celofane"

Roubo a expressão em título à mdsol. A expressão e a ideia de que a "película de celofane" que protegia Cavaco finalmente se rasgou, graças à declaração de que as suas (chorudas)  reformas não dariam para cobrir as despesas.
Partilho (já por aqui o exprimi duma e doutra forma) da indignação que tais palavras suscitaram porque, além de indecorosas, revelam a hipocrisia, a insensibilidade social e a mesquinhez de quem, ocupando o lugar que ocupa, não é capaz de ver para além do próprio umbigo.
Receio, no entanto, que a onda de indignação se esbata em breve, porque a verdade é que Cavaco Silva já fez pior, como no famigerado caso das escutas e, não obstante estarmos perante um verdadeiro atentado contra o regular funcionamento das instituições da República e contra outro órgão de soberania, o que é bem mais grave, acabou, afinal, por ser reeleito.
Mas, por contraditório que possa parecer, o que mais temo, nesta altura, é que o governo aproveite toda a movimentação que se gerou, para a utilizar em seu proveito como cortina de fumo para encobrir as medidas que vai tomando, cada vez mais gravosas para os portugueses. E que já não se limitam ao âmbito das contas contas públicas e ao funcionamento da economia. Terá sido, por acaso ou mera coincidência, que o silenciamento das crónicas de Pedro Rosa Mendes e dos seus companheiros de programa ocorreu por esta altura? Eu, pelo menos, interrogo-me sobre se não terá havido alguém que tenha julgado que a celeuma levantada à volta das declarações de Cavaco oferecia uma boa oportunidade para o caso passar despercebido e a tenha aproveitado.
Com a expressão destes receios não pretendo sugerir que não devam prosseguir as movimentações em curso contra Cavaco Silva. Pelo contrário, acho, por exemplo, que há toda a vantagem em que a petição em que é sugerida a sua demissão atinja o maior número de assinaturas possíveis, mesmo que a Assembleia da República acabe por não a discutir, uma vez que Cavaco Silva não pode ser demitido por esta via e mesmo que, muito provavelmente, esta iniciativa o não leve a renunciar. Em qualquer caso, ficará o registo da dimensão do "protesto", o que não será indiferente para quem tenha a pretensão, como julgo ser o caso, de deixar o seu nome gravado nos livros da história.
Convém, no entanto, estar atento (e era aqui que queria chegar) para evitar que a contestação a Cavaco não sirva de "película de celofane" para protecção da Comissão Liquidatária liderada por Passos Coelho.