segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

O que é que esperavas de amigos destes?

O governo reagiu ao corte do rating da dívida pública portuguesa em dois níveis, de  BBB- para BB,  por parte da agência de notação financeira Standard & Poor’sremetendo a dívida portuguesa para a categoria de "lixo", afirmando que se trata  duma decisão infundada. Hoje, coube ao primeiro-ministro Passos Coelho a vez de vir dizer que a agência está a fazer política e que a decisão "foi sobre a Europa".
Passos Coelho é capaz de ter razão quando acusa a Standard & Poor’s de fazer política, mas a acusação não deixa de ser surpreendente, partindo dele, que é um amigo dos "mercados", quando se sabe que o procedimento seguido pelas agências de rating não é de agora e quando, outrossim, se sabe que a política delas é estarem ao serviço dos "mercados".
Surpreendente a reacção, mas compreensível a desilusão do homem:  ele que é tão amigo dos "mercados" que até fez tudo (e mais alguma coisa) como os "mercados" mandaram e tratarem-no desta forma, não é justo. Se calhar, os "mercados" ainda não sabem o amigo que aqui têm. Provavelmente é tudo culpa do Moedas que se esqueceu de dar uma palavrinha aos "mercados"! 
Já, por outro lado, nada tem de surpreendente, porque é usual, a atitude de pretender passar ileso por entre os pingos da chuva, ao afirmar que a posição adoptada  "foi sobre a Europa". É verdade que a apreciação foi conjunta sobre vários países europeus. Só que Passos Coelho esquece que há vários países que não sofreram qualquer corte (Alemanha, a Holanda, a Finlândia e o Luxemburgo) mantendo a notação do triplo A e que nem todos os países considerados sofreram um corte de dois níveis, o que significa necessariamente que foi tida em consideração a realidade específica de cada país. 
Aliás, se Passos Coelho se der ao trabalho de atentar nas razões invocadas pela Standard & Poor’s, para justificar a sua posição, encontrará, além do mais, a afirmação de que o processo de consolidação orçamental "baseado unicamente no pilar da austeridade orçamental arrisca-se a tornar-se auto-liquidacionista". Ora, Passos Coelho não pode eximir-se da responsabilidade de ter assumido e de estar a levar a cabo um plano de austeridade ainda mais ambicioso do que o acordado com a "troika". Com os maus resultados que estão à vista. A Standard & Poor’s limitou-se a constatá-los. Quanto à responsabilidade: sibi imputet.
(Título reeditado)

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