A entrada de António Pires de Lima para o governo, com a pasta da Economia, aquando da última remodelação governamental, foi saudada pelos representantes das confederações patronais e por boa parte da comunicação social como uma excelente opção, tendo em conta, designadamente, o facto de Pires de Lima se apresentar não só como um defensor de uma política mais orientada para o crescimento da economia e que não se traduzisse apenas em austeridade seguida de mais austeridade, mas também como um paladino da descida dos impostos, designadamente do IVA no sector da restauração, descida considerada por ele como um factor decisivo na dinamização. da economia.
Decorridos que são apenas alguns meses, as esperanças depositadas no novel ministro da Economia foram já todas por água abaixo. Para tanto bastou a apresentação da proposta de Orçamento, onde as ideias defendidas por Pires de Lima, antes da sua entrada no governo, não encontram um mínimo de expressão. De facto, se alguma coisa se pode dizer com verdade é que no Orçamento para 2014 não há qualquer medida que tenha a pretensão de promover o crescimento, pois todas elas se traduzem em acrescentar austeridade à austeridade que já vinha dos Orçamentos anteriores. E no que respeita à baixa do IVA para o sector da restauração, nem sinais.
Defende-se o ministro Pires de Lima com o argumento de que ele no governo é um "soldado leal e fiel". Fraca defesa, como é óbvio, até porque se as carências do governo eram devidas à falta de soldados leais e fiéis, Passos Coelho tinha nas forças armadas muita gente em condições para desempenhar esse papel..
Para a queda das expectativas depositadas em Pires de Lima, há que dizê-lo, também contribuíram as contradições resultantes das declarações que tem vindo a proferir sobre a questão do "programa cautelar", contradições que dão bem conta da sua desorientação.
Não foi, de facto, preciso muito tempo para se poder concluir que o proclamado astro em ascensão, não passa, afinal, de uma estrela cadente.
A queda induzida pela sua actuação atingiu tal dimensão que já surgem vozes a reclamar pelo regresso do do "Álvaro". Vozes exageradas, sem dúvida, visto que o "Álvaro" foi um ministro-anedota inventado por uma outra anedota não menor: o próprio primeiro-ministro.
Pires de Lima não é, porém, a única estrela cadente no firmamento deste governo, pois Paulo Portas tem feito o mesmo caminho.
Recorde-se, a este propósito, que, aquando da última remodelação, na sequência da demissão de Vítor Gaspar e da "irrevogável demissão" de Portas, não faltou quem tivesse afirmado que com a promoção do Portas a vice-primeiro-ministro e com a entrada de Pires de Lima para ministro da Economia, o CDS teria ganho uma muito maior relevância no seio do governo, prevendo-se que, com o reforço da posição do CDS, se iria assistir a um novo ciclo e, com ele, a uma inversão da política de austeridade para uma política caracterizada por uma maior atenção dada ao crescimento da economia.
Quem afinou por tal diapasão não pode deixar de estar hoje completamente desiludido. O reforço da presença de gente do CDS no governo não só não se traduziu numa inversão da política de austeridade, como, pelo contrário, o que se verificou foi um reforço dessa mesma política.
Desilusão tanto mais evidente quando é certo que Paulo Portas, que cultivava a sua imagem como estrénuo defensor e provedor dos contribuintes, dos reformado e pensionistas, dos idosos, dos órfãos, das viúvas e viúvos, é visto, nos dia de hoje, por muitas e variadas que sejam as suas piruetas, como a face mais visível da política de austeridade com que este governo tem vindo a castigar aqueles sectores da população.
Por isso, até se pode dizer que, afinal, o alegadamente "muito inteligente" Paulo Portas foi completamente manietado pelo "pouco inteligente" e "impreparado" Passos Coelho, mas, pelos vistos, mais "esperto".