Após o esclarecimento hoje publicado pelo "Público", na edição impressa e
on line, os dados da questão estão agora à disposição de qualquer cidadão para poder fazer um "julgamento" sobre o caso, a começar pelo mais simples e que se traduz na constatação de que estamos em presença de duas narrativas contrastantes: a do ministro Relvas que nos diz que não pressionou e não ameaçou, e que terá apresentado um pedido de desculpas à editora Leonete Botelho em razão, tão só, do tom usado nos telefonemas precedentes.
Diga-se, desde já, que a versão do ministro não tem ponta por onde se lhe pegue, ou, se preferirem, que mete água por todos os lados. Nem preciso de alinhar uma qualquer série de razões para chegar a tal conclusão. Contento-me com a inverosimilhança da narrativa. A ser verdadeira, todo o caso não passaria duma "invenção" do "Público", hipótese que para ser credível, passaria pela prova da existência dum qualquer motivo que o ministro teria que invocar. E se não o faz é porque não existe. Obviamente.
Ao invés, o esclarecimento do "Público", que o leitor pode ler na íntegra através do "link" supra, onde se confirmam as pressões e ameaças é tão minucioso e circunstanciado que não deixa margem para dúvidas sobre a realidade dos factos. E mais: o esclarecimento é tão objectivo que acaba por favorecer a posição do ministro.
Explico-me: aquando da publicação das primeiras notícias sobre o caso ficou a pairar a dúvida sobre a gravidade da ameaça relativa à divulgação de dados da vida privada da jornalista Maria José Oliveira. Hoje, o "Público" esclarece que o que ministro Relvas se propunha divulgar era que "a autora da notícia vive com um homem de um partido da oposição", o que, a meu ver, retira gravidade à "ameaça", porque a divulgação do facto, embora do foro privado da jornalista, não põe gravemente em causa a privacidade da pessoa visada, pois o relacionamento em questão não é por certo secreto.
No entanto, se, por um lado, o conhecimento do facto que seria objecto de divulgação retira gravidade à "ameaça" a verdade é que, por outro lado, acaba por constituir mais uma prova de que o ministro falta à verdade. É que passa a fazer sentido que tenha passado pela cabeça de Miguel Relvas "falar" no assunto, pois a divulgação da relação da jornalista com um politico da oposição era-lhe favorável. A revelação, pelo menos do ponto de vista dele, diminuiria a credibilidade atribuída às notícias elaboradas pela jornalista em causa.
Se retiro gravidade à "ameaça" não a retiro ao caso. Ou melhor, aos casos, porque é evidente que Miguel Relvas mentiu à ERC e ao divulgar publicamente a sua versão do seu caso com o Público, mas, o que é ainda mais grave, faltou também à verdade ao ser ouvido no Parlamento, na Comissão de Ética, sobre o seu relacionamento com o ex-espião Silva Carvalho. A "estória" por ele contada na comissão tem incongruências, como a jornalista Maria José Oliveira detectou e que ele não quer ver divulgadas. Só esse facto explica a reacção destemperada de Miguel Relvas, perante as perguntas da jornalista, "pidescas" no dizer dele. Ou então, conclusão que lhe não é mais favorável, Miguel Relvas tem um temperamento tão irascível que é impróprio de quem ambiciona ser e é ministro.
Seja como for, para mim é assunto arrumado: o ministro Miguel Relvas não tem condições para continuar a sê-lo. A sua demissão, por iniciativa própria ou decidida por quem de direito, já tarda.