Meus amigos, as coisas estão neste pé: como diz aqui o Jorge Nascimento Rodrigues, "Nas últimas duas semanas, a probabilidade de incumprimento (risco de default) da dívida portuguesa não tem parado, desde que galgou o patamar dos 65% a 17 de janeiro. A meio da manhã de sexta-feira,[ontem] o risco de default num horizonte de cinco anos atingiu um pico de 70,9% (...)". Mas o pior é que, como também diz o Jorge, a probabilidade de incumprimento de Portugal aproxima-se perigosamente da da Grécia (só estão separadas por 12 pontos percentuais) e pior ainda é que o risco de default da dívida portuguesa aumentou tanto em 7 dias úteis, quanto o da Grécia, num mês.
De forma que, se as coisas não ficarem por aqui, e por ora não se vê como é que tal poderá acontecer, a "coisa" está a ficar mesmo preta, pese embora a magnífica ideia do Álvaro de internacionalizar o pastel de nata.
Tão preta, digo eu, que me atrevo, desde já, a adiantar que, muito provavelmente, o Passos, o Gaspar, o Portas e o Álvaro estão já a pensar em criar um ano com dez meses. O próximo, porque, quanto ao que está em curso já não vão a tempo. Todavia, deve dizer-se, em abono da verdade, que aqui há uns tempos, quando cortaram os subsídios de férias e de Natal, ainda pensaram nisso. Só não chegaram a tal extremo, porque não admitiram (o que até nem é causa de grande admiração) que fossem tão incompetentes e porque não lhes passou pelas cabeças que, com as políticas por eles adoptadas, a economia portuguesa iria bater no fundo tão depressa.
Têm agora um ano inteiro para aprender e até eles, se os deixarem chegar até ao fim, são capazes de chegar a essas duas conclusões, pois, reconhecidamente, não são burros de todo.
Como homem/mulher prevenido/a, vale não sei por quantos/as, aqui fica o aviso que, aliás, mais não é que a réplica do aviso feito, aqui há dias, pelo Prof. Cavaco Silva e que tanta celeuma levantou. Apenas e só, diga-se, porque foi mal compreendido. É verdade que não foi por exclusiva culpa de quem ouviu as suas declarações, nem sequer os seus esclarecimentos, três dias depois. Ele, de facto, expressou-se um tanto imperfeitamente, mas aqui estou eu para explicar tudo muito bem explicadinho.
Disse o Prof. Cavaco Silva, em resumo, que as suas reformas não chegavam para cobrir as despesas e que o que lhes valia, a ele e à sua Maria, é que tinham sido sempre muito poupadinhos e que, por isso mesmo, dispunham agora dessas poupanças para fazer face às dificuldades por que passam todos os portugueses, incluindo, é claro, o casal presidencial.
Ninguém vai negar, estou certo, que foi isto mesmo o que o Prof. Cavaco Silva disse. É verdade que estas declarações, abrangendo, além do mais, os conceitos de reformas, despesas e poupanças são complexas e podem prestar-se a alguns mal-entendidos, se as coisas não forem ditas de forma pensada, pausada, e devidamente enquadradas.
A necessidade de interpretação é necessária, como qualquer jurista sabe, até nos casos em que aparentemente as expressões são simples e claras. Ora se até em tais casos é assim, muito mais se justifica no caso de declarações complexas, como é caso.
Aqui vai pois a minha interpretação:
Repare-se, antes de mais, que há toda uma sequência lógica naquelas declarações. O prof. Cavaco Silva começa por aludir a reformas, depois menciona as despesas que não chegam para as cobrir e, finalmente, fala nas poupanças. Ora, por todo este encadeamento lógico, vê-se imediatamente aonde é que ele quer chegar. Às poupanças, obviamente. Foi esta forma, concedo que um tanto rebuscada, que ele encontrou para deixar mais um aviso e o mais solene que ele já alguma vez fez, pois chegou ao ponto de ter de invocar o seu "drama" pessoal. O que ele quis, claramente, dizer aos portugueses e de forma tão solene foi tão só isto: Portugueses poupem que a "coisa" está mesmo preta!
Como é sabido, fazer avisos é matéria em que o Prof. Cavaco Silva se especializou e, num caso destes, ninguém está em melhor posicionado do que ele para o fazer. Se bem se lembram, Cavaco Silva, aqui há um ano, aproximadamente, avisou José Sócrates de que havia limites para os sacrifícios. Porque no seu entender, os limites já tinham sido atingidos, tudo fez para derrubar o Governo e conseguiu. Depois disso, como toda a gente também sabe, o actual governo já ultrapassou há muito esses limites e até agora não houve maneira, nem ninguém, Prof. Cavaco incluído, capaz de o fazer parar, pela razão simples de que para este governo não há limites, nem regras. Ora, uma condução nestas condições, vai dar desastre pela certa e o Prof. Cavaco Silva também já chegou a essa conclusão. Daí, não sei se repararam, o ar de homem angustiado com que apareceu na televisão.
Fica por explicar para que é que servem as poupanças em caso de acidente. O Prof. Cavaco Silva não chegou a avançar com a explicação, mas é muito simples: os cintos de segurança forrados com notas asseguram uma muito melhor protecção em caso de embate, além de que as notas também servem para fazer almofadas que amortecem o choque. E quantas mais almofadas, melhor.
Tomem nota.